•  domingo, 24 de novembro de 2024

Pesquisa investiga potenciais biomarcadores de forma agressiva de câncer infantil

Pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) identificaram moléculas com potencial para serem usadas como biomarcadores de formas agressivas de meduloblastoma, um tipo de câncer do Sistema Nervoso Central que acomete sobretudo crianças e adolescentes.

O estudo foi publicado na revista Brain Research e tem como primeira autora a pós-doutoranda Carolini Kaid, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A pesquisa foi supervisionada pelo professor Oswaldo Keith Okamoto, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e realizada no CEGH-CEL – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela Fapesp e coordenado pela professora Mayana Zatz.

As proteínas e os microRNAs (pequenos segmentos de RNA com papel regulatório no genoma) que podem funcionar como biomarcadores foram detectados em linhagens celulares de meduloblastomas agressivos cultivadas em laboratório. Caso sejam de fato encontradas circulando no sangue ou no líquido cefalorraquidiano, que circunda o encéfalo e a medula espinhal, de pacientes com a doença poderiam sinalizar a presença dos tumores e ajudar no diagnóstico precoce.

Os meduloblastomas muitas vezes são detectados apenas quando causam sintomas clínicos, como problemas de fala ou locomoção, e não raro quando já ocorreu metástase. O tratamento se dá por cirurgia, radioterapia e quimioterapia e pode deixar sequelas no paciente.

Detecção

A detecção precoce dos tumores por exames de sangue ou do líquido cefalorraquidiano, portanto, poderia evitar intervenções mais agressivas e ainda proporcionar um monitoramento da doença após o tratamento, uma vez que os tumores podem voltar a proliferar após entrar em remissão. O câncer de próstata, por exemplo, libera uma proteína que pode ser detectada no exame de sangue, conhecida como PSA (sigla em inglês para antígeno prostático específico).

“Um dos fatores que contribuem para a aplicação dessa descoberta é que essas proteínas e microRNAs são carreados dentro de microvesículas, estruturas protegidas por uma membrana. Isso aumenta a meia-vida dessas moléculas na circulação e as chances de sua detecção. Os meduloblastomas liberam uma quantidade grande dessas microvesículas, quatro vezes maior do que células saudáveis e duas vezes mais que outros tumores primários do Sistema Nervoso Central, como o gliobastoma”, explica Okamoto, coordenador do estudo, à Agência Fapesp.

O meduloblastoma tem a peculiaridade de possuir células tumorais que apresentam características similares às das células-tronco neurais. Há mais de uma década, o grupo estuda essas “células-tronco tumorais”, que tornam a doença mais agressiva e difícil de tratar.

Um dos sinais da presença dessas células nos tumores é a detecção da proteína OCT4, conforme mostraram pesquisas anteriores do grupo (leia mais em: agencia.fapesp.br/21884/ e agencia.fapesp.br/31634/).

Experimentos

Os pesquisadores selecionaram amostras de células tumorais das quatro linhagens de meduloblastoma que expressam a proteína OCT4A e isolaram as microvesículas liberadas por elas. Com ferramentas de análise proteômica e transcriptômica, verificaram quais proteínas e microRNAs estavam presentes nas microvesículas.

Foram selecionadas então todas as moléculas comuns às quatro linhagens. Da lista resultante, foram excluídas as que já constavam em bancos de dados como sendo moléculas circulantes no sangue e no líquido cefalorraquidiano não associadas a tumores, mas produzidas por células saudáveis e outras não cancerosas.

Ao final restaram 14 proteínas, das quais cinco nunca haviam sido reportadas antes em microvesículas de células tumorais. Entre os microRNAs, três são inéditos em meduloblastoma.

“A ideia é que se possa detectar os tumores de forma precoce, a fim de que as intervenções possam ser feitas mais cedo e de forma mais branda. Isso evitaria as sequelas nesses pacientes, que são na maioria crianças e que perdem qualidade e mesmo tempo de vida produtiva. É uma situação delicada que, se puder ser evitada, proporcionaria um grande ganho”, diz Okamoto.

Parcerias

Os pesquisadores buscam parcerias com centros de referência na doença, a fim de fazer uma validação clínica dos resultados, obtidos até agora em cultura de células. A ideia é coletar sangue e/ou líquido cefalorraquidiano de pacientes diagnosticados e verificar se os possíveis biomarcadores estão de fato circulando nos fluidos corporais e se existe uma oscilação no nível das moléculas durante a evolução da doença.

“A validação clínica é necessária para que possamos, posteriormente, aprovar junto aos órgãos competentes um novo teste, que poderia ser realizado rotineiramente por qualquer laboratório clínico”, diz Okamoto.

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