O impacto do estresse feminino nas doenças odontológicas
Dra. Selma Nishimura
Vivemos uma época que demanda que as mulheres sejam multitarefas. Na prática, temos que nos desdobrar para equilibrar todas as atividades pelas quais somos responsáveis. Óbvio que essa forma de viver tem um preço alto para as mulheres e exige uma carga energética física e mental alucinante. Como resultado, enfrentamos o famoso quadro de estresse e, quando percebemos, estamos tensas: músculos e nervos retesados. Há ampla literatura sobre o impacto dessa tensão constante na qualidade de vida e na saúde feminina, mas pouco se fala sobre a relação com a saúde odontológica. O estresse está associado, claramente, às condições básicas para o desenvolvimento de disfunção temporomandibular; para o bruxismo; ou para o “apertamento” dentário.
E quais os sintomas? As dores de cabeça constante; dores de ouvido; dor e pressão atrás dos olhos; dor ao mastigar ou ao bocejar; estalos ao abrir e fechar a boca; travamento ou deslocamento da mandíbula; mudança na forma de mastigar ou flacidez dos músculos da mastigação – independente da sua idade –, podem indicar uma disfunção temporomandibular ou bruxismo.
Conhecida como DTM, essa disfunção é causada pelo mau funcionamento da articulação temporomandibular – a que liga o maxilar ao crânio, auxiliando o movimento da mandíbula ao se projetar ou retrair; nos movimentos para os lados, reflete diretamente na parte muscular, dos ligamentos, dos discos e ossos ligados. O bruxismo, por sua vez, está ligado aos contatos não funcionais entre os dentes, em movimentos ritmados e involuntários. Ele pode tanto ser caracterizado como cêntrico – apertamento dentário – ou excêntrico, o ranger de dentes. Um fato curioso é que pode ocorrer tanto durante a noite, quanto ao longo do dia.
As forças excessivas aplicadas nos músculos – masseter, temporal, pterigoideo medial e lateral – podem causar disfunção na articulação temporomandibular, dores nas fibras dos músculos temporal, região lateral e posterior do pescoço, alargamento ou espessamento do ligamento periodontal e facetas de desgaste nos dentes posteriores e anteriores. O que parece um descritivo muito técnico, na verdade é simples! Significa que provocamos uma tensão muscular da face que dissemina problemas em toda a vizinhança, incluindo a diminuição da altura dos dentes que compromete a parte funcional e estética. Em muitos casos, há exposição de dentina – que é a camada mais interna do dente, devido ao desgaste do esmalte – o que provoca sensibilidade, principalmente no contato com alimentos gelados.
A ocorrência é resultado de fatores associados: da genética, passando pela má oclusão, distúrbios miofuncionais orais, disfunção da coluna vertebral com a cabeça projetada para frente e fatores psicológicos. É nesse contexto que devemos ter muita atenção. Devido ao estresse emocional, problemas respiratórios, sono, utilização de alguns fármacos, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) ou problemas neurológicos podemos ter quadros nos quais a saúde odontológica fica seriamente comprometida. Esses problemas são causados por elementos multifatoriais e com origem no sistema nervoso central, daí a resposta do porquê ser o diagnóstico ser tão complexo.
Para auxiliar no tratamento, a parte odontológica deve ser devidamente avaliada e tratada. Cada paciente possui uma peculiaridade, portanto, o planejamento deve ser único, seja no ajuste de oclusão, no aumento da dimensão vertical por meio de peças de cerâmica ou resina, no recobrimento da dentina exposta. Ou seja, tudo depende de um acurado diagnóstico. Entretanto, defendo que devemos considerar todos os fatores intraorais e extraorais, incluindo os que oferecem essa predisposição à tais alterações odontológicas. O uso de placas oclusais pode ser a opção de um tratamento-adjunto para o gerenciamento da dor – elas auxiliam no reposicionamento do côndilo e/ou disco articular; reduzem a atividade eletromiográfica dos músculos mastigatórios; auxiliam na modificação do comportamento oral para evitar ou limitar lesão dental potencialmente induzida pela desordem; e diminuem as alterações na oclusão do paciente.
Um outro recurso que as mulheres apreciam é o uso da toxina botulínica do tipo A – chamada de neurotoxina, produzida pela bactéria anaeróbica Clostridium botulinum. Ela tem como efeito paralisar o músculo a partir da inibição da liberação de acetilcolina na junção neuromuscular. É reconhecida cientificamente e é convencionalmente comercializada com finalidade terapêutica.
No meu consultório, recomendo que esse tratamento seja sempre multidisciplinar, ou seja, um olhar que envolve dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, neurologistas e otorrinolaringologistas. Saber escutar o próprio corpo é sinal de autoestima e reflete na qualidade de vida. E, deve caber em qualquer agenda feminina… por mais atarefada que ela seja!