Infectologista da Unicid explica os estágios do Covid-19 e como a doença se manifesta no organismo
São Paulo, 09 de junho de 2020 – O infectologista Dr. Alexandre Piva Sobrinho, docente do curso de Medicina da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), instituição que integra a Cruzeiro do Sul Educacional, fez apontamentos acerca do novo Coronavírus (Covid-19). O professor avalia que apesar de ainda haver muitas controvérsias sobre o novo vírus, uma das dúvidas mais importantes à destacar, é quanto o período de incubação da doença. A analogia do coronavírus é com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), a qual dispõe de sete dias em paralelo na prática clínica.
A SARS surgiu em 2002 e se espalhou pelo mundo em alguns meses. É um vírus transmitido por gotículas quando alguém com a doença tosse, espirra ou fala. Os sintomas incluem febre, tosse seca, dor de cabeça, dores musculares e dificuldade para respirar.
“São muitas as dúvidas ainda diante do Covid-19, como o período de transmissibilidade da doença, que é incerto. A ciência não consegue afirmar com exatidão. Há uma analogia com a SARS, que tem em média sete dias, período de transmissibilidade. Mas não sabemos se isso acontece com a Covid. Assemelha-se com a SARS no espectro clínico. A carga viral da SARS é maior, por volta do 12º dia, com o paciente já isolado. E o Covid, apresenta um pico de viremia* por volta do segundo dia e até mesmo pacientes assintomáticos podem transmitir a doença”, avalia.
Além disso, o infectologista aborda os estágios da doença e como ele se manifesta no organismo. Piva, esclarece que a manifestação do vírus é dividida em três fases. “A primeira fase se caracteriza por replicação do vírus de modo intenso, quando avaliamos o efeito do vírus nas células, percebemos que ele provoca uma reação imunológica inata (inespecífica) caracterizada por sintomas leves. Nesta fase, os linfócitos estão diminuídos e começam a subir os parâmetros inflamatórios. A segunda fase é pulmonar, há um aumento da resposta imune adaptativa. Há um agravamento do quadro respiratório, aumento da linfopenia**, por exemplo. A terceira fase é a hiperinflamatória, quando há a insuficiência de múltiplos órgãos e o agravamento do envolvimento pulmonar. É quando já ocorre uma resposta imune totalmente desregulada”, explica.
O infectologista relata que o Covid-19 possui na sua superfície em uma proteína Spike (S) que se liga ao receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2).
Segundo o infectologista, pela primeira vez nesta pandemia, a ciência começa a desvendar uma possível sensibilidade genética individual em pacientes. “Na minha opinião, ainda não se explica a variabilidade das apresentações clínicas dos pacientes infectados pelo Covid 19, mas essa susceptibilidade genética ligada ao gene 3p21.31, pode explicar a maior resposta inflamatória de alguns, como grupos sanguíneos”, justifica Piva.
Por fim, Piva aponta que mutações múltiplas do vírus dificultam a confecção de vacina, que parece não ser o caso do Covid 19. A mutação pode afetar a proteína spike, estrutura na parte externa do vírus usada para entrar nas células. ¨Vírus com poucas mutações diminui a necessidade de vacinas periódicas, por exemplo, vacina contra Influenza”, explica.
O infectologista salienta ainda, que essa pandemia deve ser vista como um sinal claro de que o ser humano precisa refletir sobre o próprio comportamento para com o meio ambiente. “Nossa relação com o meio ambiente, nosso trato para com os animais, precisa ser revista e alterada, esta relação não pode ser desregrada (comércio, tráfico, alimentação de animais silvestres). Se não houver um novo comportamento, não demorará muito para termos uma nova pandemia se espalhando pelo mundo”, alerta.
*Viremia é a presença de vírus no sangue circulante em um ser vivo;
**Linfopenia significa que a sua contagem está abaixo do esperado. Relativa se refere a consideração do número total de células brancas;