•  sábado, 23 de novembro de 2024

Cientistas desenvolvem métodos rápidos para monitorar a qualidade do álcool em gel

Pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), vinculados à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e ao Instituto de Criminalística Professor Armando Samico, da Polícia Científica de Pernambuco, desenvolveram métodos analíticos para avaliar o teor de etanol nos antissépticos recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – entre 62% e 71% – para assegurar a eficiência na desativação do coronavírus (SARS-CoV-2).

Os métodos foram descritos em dois artigos: um foi publicado na coleção Public Health Emergency COVID-19 Initiative, da editora Elsevier, e o outro no Journal of the Brazilian Chemical Society.

Os métodos de análises utilizados pelo grupo se baseiam no uso de espectroscopia no infravermelho (IR) e espectroscopia no infravermelho próximo (NIR). “O método baseado em espectroscopia no infravermelho requer equipamento de mais alto custo e acessórios especiais, também mais caros, para a obtenção das medidas necessárias e realização da análise do conteúdo de etanol nas amostras de álcool em gel”, explica Celio Pasquini, coordenador do INCTAA, à Agência Fapesp.

“Já os métodos baseados em espectroscopia no infravermelho próximo podem ser implementados com instrumentos portáteis e de baixo custo”, compara o pesquisador.

Estrutura

Os dois métodos produzem informações (espectro de absorbância) essencialmente da mesma natureza, associadas às características das estruturas químicas dos compostos presentes nas amostras analisadas. “Essas informações permitem acessar o teor de etanol no álcool em gel, que deve estar na faixa de 62% e 71% para garantir a eficácia do sanitizante e o combate efetivo ao vírus causador da COVID-19”, completa.

No caso NIR, o método desenvolvido é muito rápido – uma análise demora cerca de 2 minutos. “Aplicado diretamente na amostra, produz resultados adequados em termos de exatidão e precisão para o monitoramento da qualidade do álcool em gel”, afirma.

O custo do equipamento NIR utilizado pelo grupo de pesquisadores da Unicamp e UFV é de aproximadamente US$ 1.000,00. “Os instrumentos utilizados são portáteis, facilmente transportados para as análises em campo e isso constitui uma vantagem importante principalmente considerando o uso dos métodos propostos em ações de fiscalização”, explica Pasquini.

O uso da metodologia pode ajudar a reduzir fraudes na produção de antissépticos baseados no álcool para higienização das mãos e superfícies, uso obrigatório em locais públicos, recintos comerciais e residenciais em função da pandemia de COVID-19.

“Para fazer frente à demanda, a Anvisa, assim como as agências de outros países, flexibilizou as normas para a produção dos antissépticos. Infelizmente, a ocorrência de fraudes e a produção dos antissépticos fora das especificações recomendadas acompanham o aumento da demanda, com oportunistas oferecendo produtos de baixíssima qualidade e ineficazes”, diz Pasquini.

Qualidade

Além da fiscalização, o controle de qualidade da produção do álcool em gel exige técnicas e métodos analíticos que permitem determinar o teor de etanol em antissépticos com rapidez, exatidão e, preferencialmente, com baixo custo.

Os pesquisadores utilizaram os métodos IR e NIR para testar 75 amostras de antissépticos de diferentes produtores, a maioria na forma de gel, adquiridas no comércio de Recife, em Pernambuco, e em Viçosa, em Minas Gerais, além de produtos apreendidos pela Polícia Federal em Recife.

Em Recife, por exemplo, foram encontradas amostras com teores de etanol tão baixos como 20%. Além disso, a maior parte das 75 amostras apresentou teores de etanol inferior ao recomendado pela Anvisa, embora dentro da faixa de eficácia.

O INCTAA, com sede na Unicamp, é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com colaboração da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A descrição dos métodos de análise foi publicada pelo grupo de Pernambuco em www.scielo.br/pdf/jbchs/v31n9/0103-5053-jbchs-31-09-1759.pdf e pelo grupo da Unicamp e da UFV em www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7430279/.

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