“Embora seja chamada de partícula, ela é microscópica e tem uma capacidade de penetrar profundamente no pulmão. Isso vai causar um processo inflamatório, um efeito sistêmico, dor de cabeça, dor no corpo, todos sintomas de uma infecção respiratória”, explica Sandra Hacon, especialista em gestão da saúde pública e meio ambiente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Então, os cientistas ambientais cruzaram os dados sobre a qualidade do ar com as internações de indígenas com mais de 50 anos por doenças respiratórias na Amazônia. Eles concluíram uma alta de 25%, em média, durante os meses com maior registro de fogo em 2019 – entre agosto e outubro.
Awapy Uru-Eu-Wau-Wau, morador da terra indígena batizada com seu sobrenome em Rondônia, confirma a situação apresentada pelo ISA. Ele conta que o fogo está forte na região nos últimos dias de agosto, e que felizmente a aldeia não registrou casos de Covid-19.
“Mesmo assim, problemas respiratórios todo mundo tem, porque o clima está muito quente, seco, e a pele fica muito ressecada. E cada ano que passa o governo vai diminuindo a equipe fiscalizando as queimadas, então, o fogo só aumenta”, disse.
No ano passado, foram 2.556 internações de indígenas com idades entre 0 e 4 anos com problemas respiratórios. Entre os idosos com mais de 50 anos, foram 384 no país.
Com base nos dados, o ISA aponta que, além das comorbidades que agravam o quadro da Covid-19, as hospitalizações em decorrência das queimadas podem saturar ainda mais os hospitais públicos. Os povos indígenas correm risco particular, já que a taxa de mortalidade pela Covid-19 é 1,5 vezes maior à média nacional.
Regiões com maiores taxas de internações de crianças indígenas entre os povos:
- Jaru, Vilhena e Mirante da Serra, em Rondônia;
- Oeste do Mato Grosso;
- Leste da Bacia do Xingu no Pará, nas cidades de Bannach e Ourilândia do Norte;
- Manaus, no Amazonas;
- Mucajaí, em Roraima.
A Amazônia representa quase metade das queimadas (48,7%) registradas no Brasil em 2020. Foram 38.249 focos de calor detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até domingo (23). Os dados mostram que Jimbá, no Mato Grosso, Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, são as três cidades com a maior quantidade de queimadas desde 1º de janeiro. Os dois municípios paraenses também lideram o fogo detectado em agosto.