Como o coronavírus pode impulsionar a modernização da construção civil?
Por Wanderson Leite
Reinventar-se é a palavra de ordem quando o assunto é a crise do coronavírus. Se muitos negócios já vinham sendo considerados como ultrapassados antes da pandemia, agora, sobreviver aos próximos meses é cada vez mais incerto. Em relação à construção civil, por mais que as empresas menores e o comércio já estejam sentindo o reflexo da redução do consumo, historicamente, este é um setor que sempre soube superar as dificuldades.
Por ser um setor robusto, com uma cadeia de produção extensa, envolvendo indústria, comércio e prestação de serviços, sabe-se que qualquer modernização na construção civil é demorada. Imagine querer fazer uma pequena mudança em uma engrenagem que, há anos, funciona (e funciona muito bem) da mesma maneira? É complicado, mas necessário. O canteiro de obras já sabe disso e, na última década, vem implementando novas tecnologias em materiais e equipamentos, diminuindo o tempo de construção e o custo das obras. Mas um setor que ainda tem bastante a evoluir é o comercial. Os clientes já não têm os mesmos hábitos de consumo: em geral, eles pesquisam mais e se deslocam menos para as compras. O que a crise do coronavírus fez foi acentuar uma questão já existente.
Quando o governo deu as primeiras orientações pelo isolamento social, muitos comércios imaginaram que logo tudo voltaria ao normal. Depois das primeiras semanas, vendo as quedas nas vendas, a ficha caiu e todos começaram a buscar soluções a longo prazo. E-commerce, atendimento via WhatsApp, perfis nas redes sociais, entrega à domicílio: a criatividade passou a ditar o sucesso nas vendas. Algumas questões essenciais emergiram: se o cliente não pode ir às lojas, como posso ir até ele? Com mais tempo em casa, de que ele se ocupa? Onde posso encontrá-lo? A resposta para a maioria dessas perguntas leva à importância da internet.
É um engano pensar que o mundo parou. Há clientes aproveitando para fazer pequenas obras em casa, comprando materiais com medo dos preços subirem futuramente ou solicitando orçamentos. Quem não estava preparado para essa mudança está sofrendo bastante. Essa crise vai passar, mas outras virão. As pessoas estão transformando seus hábitos, e são eles que moldam o mundo – por isso, é importante a mudança de mentalidade das empresas.
Um dos pontos essenciais neste momento é gerar informação sobre seus produtos e estar em contato permanente com os clientes, buscando atender suas expectativas e tranquilizá-los. Quando o mercado vai bem, você segue o fluxo. Mas quando se está nadando contra a corrente, é preciso acelerar. Muitos clientes não estão trabalhando, estão em casa consumindo conteúdo nas redes sociais, sites de notícia e aplicativos de entretenimento. Ou seja, a melhor forma de atingi-lo é estar onde ele está. Mostre seu produto ou serviço, como isso pode ser benéfico para ele agora e depois da crise. Só é lembrado quem se faz presente!
Outra lição que fica é a importância de diminuir a burocracia e otimizar os processos. Ter que resolver tudo pela internet fez com que muitas empresas percebessem quão desnecessárias eram algumas reuniões ou atividades. Em relação ao cliente, muitos esforços poderiam ser poupados ou feitos de uma forma mais bem planejada. Muitas pessoas ficam surpresas com a modernidade e rapidez na construção dos hospitais de campanha, por exemplo, mas nada do que está sendo feito é novo.
A aposta agora é na residência unifamiliar, são as obras menores e com menos tendência de parar. Segundo dados coletados em 30 de março pela Prospecta Obras, plataforma que já mapeou 89% das obras em andamento no país, esse segmento foi o com menor índice de paralisação (32%). Em comparação às obras em residência multifamiliar, como prédios, por exemplo, apenas 3% das obras ainda estão em andamento. É preciso olhar com carinho para esses números e buscar oferecer uma experiência de compra satisfatória para esse cliente. É um mercado em que há demanda e as empresas que souberem oferecer as melhores ofertas e condições poderão passar pela crise sem maiores danos.