Coworking de cozinhas atrai restaurantes que precisam de um “puxadinho”
TAG Co Kitchen será inaugurado em Porto Alegre e oferece cozinhas individuais para cada empreendedor. Objetivo é resgatar estabelecimentos que fecharam as portas e inseri-los no delivery
Há cerca de um ano, o empreendedor Roberto Monaco, 54, abriu uma franquia da Espetto Carioca em um shopping center de Porto Alegre (RS). Ele negociou com a franqueadora que abriria mais lojas depois de um tempo, tanto com atendimento ao público quanto exclusivas para delivery. A pandemia acabou acelerando os planos e agora ele se prepara para abrir uma cozinha exclusiva para entregas – mas ainda pertencente à mesma unidade franqueada.
Desde o final do ano passado, Monaco já operava com delivery na loja recém-inaugurada, mas ainda de forma tímida. Quando o restaurante precisou fechar, por conta da quarentena, a frente se tornou a principal fonte de receita. “Com base nisso, começamos a pensar em uma ampliação de faturamento por esse canal, que é o que nos permite funcionar em meio a uma crise tão grave quanto essa”, diz.
Atualmente, a loja do shopping atende a um raio de 5km. “É o que conseguimos fazer para manter a qualidade dos itens.” Assim, ele conversou com a franqueadora e recebeu aval para instalar um “puxadinho” da franquia, em outro endereço.
Durante a pesquisa, ele conheceu a TAG Co Kitchen, um coworking de cozinhas que será inaugurado na região central da cidade no início de outubro. “Lá nós estimamos que poderemos oferecer nossos produtos para uma área de duas a três vezes mais ampla”, explica o franqueado.
Monaco investiu cerca de R$ 60 mil para adaptar um espaço de 20m², e deve realizar novos aportes de até R$ 30 mil quando a operação iniciar. Ele espera que a extensão da cozinha ajude a aumentar ainda mais o faturamento da loja. “Mesmo com as dificuldades, conseguimos dobrar o faturamento com delivery que fazíamos antes da pandemia. Estou confiante.”
A TAG Co Kitchen é um projeto dos empreendedores Thiago Cardoso e Edgar Niedermeier, que são donos de uma construtora e enxergaram a possibilidade de facilitar a operação de restaurantes que trabalham com delivery na cidade. A ideia surgiu no final do ano passado, de olho no crescimento dos espaços de dark kitchen (cozinhas apenas para delivery, sem atendimento ao consumidor), mas as obras acabaram atrasando justamente por conta da pandemia.
O espaço abrirá com 14 cozinhas individuais, com entre 15 m² e 40 m², que podem ser locadas pelo tempo médio de dois anos. Cada restaurante pode instalar o próprio maquinário e o valor mensal a ser pago pela ocupação é um percentual do faturamento.
O restaurante receberá a demanda de aplicativos de entrega, como iFoode Uber Eats, por meio de um software próprio, desenvolvido pela TAG, e enviará o pedido por motoboys de cooperativas alocadas dentro do espaço. O investimento na tecnologia foi de cerca de R$ 500 mil.
Além desse espaço, localizado na região conhecida como 4º Distrito, a TAG está desenvolvendo outro na rua dos Andradas, no centro histórico da cidade, para entregas a pé e de bicicleta. O investimento total previsto nos dois espaços é de R$ 7 milhões.
Depois, em 2021, um imóvel em Canoas, também no Rio Grande do Sul, deve virar outro coworking de cozinhas.
Toda a estrutura compartilhada, desde o software, motoboys e até a limpeza do espaço, será rateada entre todos os restaurantes no pagamento de um condomínio, estimado em R$ 65 por metro quadrado. “A ideia é que ele pague o aluguel só com a economia que vai ter com a logística dos aplicativos”, afirma Cardoso.
Além de restaurantes como o de Monaco, que buscam por uma expansão da cozinha, sem necessariamente abrir outra empresa, Cardoso conta que tem procurado também por empreendimentos que fecharam as portas definitivamente na capital gaúcha, mas que podem usar o coworking para manter a marca viva no delivery. Pelo menos três negociações atuais estão nessas condições, segundo o empreendedor.
Segundo pesquisa divulgada pela Associação Nacional dos Restaurantes (ANR), em parceria com a consultoria Galunion, 22% dos bares e restaurantes que ainda estão abertos não devem sobreviver à pandemia – cerca de 200 mil estabelecimentos em todo o país.
Por Luisa Sanches