•  sábado, 23 de novembro de 2024

Legitimidade do pensamento humano: os ídolos ocos de Nietzsche

Com tradução do especialista em Friedrich Nietzsche, Saulo Krieger, a Editora Edipro publica ‘Crepúsculo dos ídolos’, a obra mais genuína do filósofo alemão que traz revelações sobre vida e moral

Para reunir os principais conceitos da filosofia em um material introdutório a síntese de seu pensamento, Friedrich Nietzsche escreveu Crepúsculo dos ídolos, a penúltima obra do escritor publicada originalmente em 1888 e relançada com uma nova tradução pela editora dos clássicos, a Edipro.

Ao traçar uma genealogia das ideias e da moral, Nietzsche quebra os paradigmas filosóficos e questiona a legitimidade de ícones do pensamento humano que, até então, eram considerados ídolos intocáveis das ciências e da sociedade. A partir da proposição de que “há mais ídolos do que realidades no mundo”, Nietzsche segue derrubando os ídolos ocos de seu tempo – que vão da filosofia clássica greco-romana ao sistema educacional alemão.

Em Crepúsculo dos ídolos, o próprio Nietzsche a caracteriza como um aperitivo, destinado a “abrir o apetite” dos leitores para a sua grandiosa filosofia. Trata-se, então, de uma síntese e introdução a todas obras desse pensador, e ao mesmo tempo, o texto é uma “declaração de guerra”.

Vendo de modo mais preciso, o que produz tais efeitos é a guerra, a guerra pelas instituições liberais, a qual, por ser guerra, faz perdurar os instintos não liberais. E a guerra educa para a liberdade. Então o que é liberdade?! Ter vontade de autorresponsabilidade. Manter a distância que nos separa. Fazer-se indiferente à fadiga, à dureza, à privação, mesmo à vida. Estar disposto a sacrificar homens à sua causa, incluindo a si mesmo.” (P. 94)

É com esse espírito guerreiro que ele se lança contra os “ídolos”, as ilusões antigas e novas do Ocidente, as chamadas “muletas metafísicas” que as pessoas têm de largar para viver verdadeiramente a vida. Essa obra genuína percorre séculos de conhecimento, desde Sócrates aos românticos de seu tempo, citando pensadores, teorias e instituições, incluído a própria educação alemã, além de colocar à prova os mais respeitados intelectuais do ocidente, como Rousseau – o naturalista impuro; Dante e Kant.

Traduzida para o português pelo doutor e filósofo, Saulo Krieger, esse é o terceiro trabalho do autor a integrar o catálogo da Edipro, que já conta com o livro Além do Bem e do Mal e Assim falou ZaratustraCrepúsculos dos ídolos é, sem dúvida, essencial a quem deseja enxergar um panorama da filosofia niilista, centrada no senso crítico e na defesa corajosa das próprias posições. Krieger é filósofo graduado pela USP, doutor pela Unifesp e bolsista Capes na Université de Reims, na França. É membro do Grupo de Estudos Nietzsche (GEN) e pesquisador das relações entre processos inconscientes e conscientes na obra de Nietzsche.

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