Educação a distância: Estônia está disponibilizando gratuitamente ferramentas usadas para ajudar outros países durante a crise
O país, que já possui uma rede estruturada de educação online, está viabilizando esse sistema em tempos de pandemia
Para apoiar outros países durante a crise do coronavírus e ajudar nações que estejam passando por dificuldades em adaptar o sistema de ensino ao cenário atual, a Estônia está disponibilizando gratuitamente suas ferramentas de educação a distância.
Estônia vem consolidando o setor de educação através de um forte sistema de e-Schooling, que compreende o uso constante de ferramentas para aprendizagem online para o caso de situações inesperadas – como a que vivemos hoje, por exemplo. O uso intensivo de tecnologia tem ajudado a Estônia a se manter na liderança do ranking de qualidade educacional na Europa, PISA (para o português, Programa de Avaliação Internacional de Estudantes) na região.
Esse trabalho é feito a partir do uso de plataformas, ferramentas, aplicativos e diferentes dispositivos ligados à internet e que possibilitam uma experiência diferente diante do aprendizado, engajando ainda mais os alunos. Diante do decreto de estado de emergência na Estônia devido a crise do COVID-19, o governo e as escolas entenderam que toda essa estrutura se tornou ainda mais essencial.
Táticas de aprendizagem
Na maioria das escolas estonianas, a comunicação entre professores, alunos e famílias é estabelecida a partir de duas principais plataformas: o eKool e Stuudium. Ambas possibilitam a publicação de tarefas, avaliação de estudantes, acesso à notas e canais de comunicação, acompanhamento de aulas e armazenamento de conteúdo em nuvem. Além disso, os governantes dos distritos do país também tem acesso aos gráficos e índices de desempenho das escolas da região, fornecidos por essas aplicações, e conseguem mapear o que precisa ser melhor trabalhado em cada uma delas, além de entender a qualidade da educação local.
Priscila Portes, brasileira e professora de inglês em uma escola pública da Estônia, afirma que enxerga muito investimento do governo sobre a educação do país. “A administração da escola fica à responsabilidade do governo e existe bastante investimento. As salas têm projetor, sistema de som, tablets disponíveis para os alunos, etc. Em termos de tecnologia, eu tenho muito acesso à diversos aplicativos e devices para utilizar com meus alunos em sala de aula. Realmente, tenho tudo que preciso para dar uma aula super legal e engajar os alunos utilizando tecnologia. É simplesmente incrível trabalhar nessa escola.”
Uma forma alternativa, mas bastante utilizada, para garantir o aprendizado e o envolvimento dos alunos é o uso de games. A 99.Math, startup estoniana voltada para educação, desenvolveu uma ferramenta divertida de aprender matemática através de jogos sozinho ou desafiando amigos, e já está disponível para ser utilizada no Brasil. Segunda Priscila, ela também costuma fazer o uso de diferentes jogos de quiz e desafios, tanto em sala de aula como agora no período de quarentena. “Tentar chamar a atenção deles e engaja-los na sala de aula virtual é importante. Quero gerar essa interação, principalmente em um momento como este”.
Rede de suporte online
Apesar dos professores estonianos já estarem preparados para manejar o uso de tecnologias de aprendizado a distância, também houve uma mudança na rotina, que não costumava ser 100% digital. Para garantir um apoio, foi criado o grupo Education Nation, com o objetivo de incentivar educadores a compartilharem dicas, comentários e debates sobre educação diante do isolamento social, gerando também uma rede de suporte.
“Eu participei de alguns e foi super legal porque esses encontros acontecem tanto em estoniano quanto em inglês, possibilitando a participação de todos. Tanto o governo como o Ministério da Educação, compartilham boas práticas, sites, e dicas de como lidar com a rotina. Eles nos mantêm bem informados do que está acontecendo e sobre os próximos passos, então em relação à comunicação eu tenho me sentido bem segura”, reforçou Priscila.
Para apresentar e explicar o modelo de educação do país, que integra tecnologia às práticas de aprendizagem, a Estônia está realizando webinars relacionados ao assunto. O último aconteceu no dia 30/4, discutindo “Ensino superior e ensino à distância: melhores práticas da Estônia”. Assista também aos demais webinars realizados através do canal do Education Nation no YouTube e acompanhe os próximos encontros através da página no Facebook.
Qualidade de vida
A qualidade da educação é um dos fatores que, unido à boas oportunidades de vida e de trabalho, leva brasileiros a migrarem para o país. Esse é o caso de Anderson de Amorim, que já mora na Estônia há dois anos com sua família, e encontrou lá espaço no mercado estoniano e a possibilidade de oferecer à sua filha uma boa qualidade de vida.
“Decidi sair do Brasil buscando uma melhor qualidade de vida, segurança e educação para minha filha. Eu e minha esposa pesquisamos vários países para nos oferecer tudo isso e começamos a aplicar para vagas de emprego. Uma das primeiras em que fui aceito foi na Estônia, e não pensamos duas vezes. Achamos tudo isso e, de brinde, ainda ganhamos uma das melhores educações básicas do mundo!”, disse Anderson, que atualmente trabalha na área de tecnologia em uma empresa local.
Priscila também contou que a qualidade de vida esteve presente na tomada de decisão em se mudar para Estônia. “Eu pensei que seria uma grande oportunidade para dar uma acalmada na minha rotina, viver um pouco a vida de interior, poder caminhar para a escola e não ter preocupação com a minha segurança. Essa última, era algo que me preocupava muito em Curitiba e, inclusive, um mês antes de vir para Estônia meu carro foi roubado, então foi algo que me fez querer ainda mais vir para cá”.
Segundo os últimos dados divulgados pela Tere Tallinn, uma iniciativa de brasileiros que mora na Estônia, o país abriga atualmente 320 brasileiros – registrando crescimento em comparação com 2015, quando o número contabilizado era de 170. A Estônia se firmou, nos últimos anos, como um dos maiores hubs tecnológicos do mundo e tem atraído muitos brasileiros pelas oportunidades de trabalho, principalmente na área de TI e outras carreiras que também envolvem tecnologia. Hoje, a iniciativa Work in Estonia colabora com 3700 empresas empregadoras, posicionando o país como o 3º com maior número de startups per capita.