Dia do Professor: educação para a erradicação do trabalho infantil
Conheça a história de dois profissionais que estão na linha de frente do programa ARISE, iniciativa que muda a realidade de crianças e adolescentes
Os professores são essenciais no processo de formação e educação de crianças, adolescentes e adultos. Para homenageá-los, a Unesco criou o Dia Mundial do Professor, celebrado em 15 de outubro. E nada melhor do que comemorá-lo valorizando a história de dois desses profissionais que fazem parte de um projeto que visa garantir infância e adolescência plenas, afastadas do trabalho infantil.
Etson Eugênio Limberger e Leonardo Guimarães são professores de Educação Física e oficineiros do Programa Alcançando a Redução do Trabalho Infantil pelo suporte à Educação (ARISE), desenvolvido pela ONG Winrock Internacional (WI) e pela Japan Tobacco International (JTI). Eles são a ponta dessa iniciativa que tem como um dos objetivos principais avançar na redução do trabalho de crianças e adolescentes. Essa é, inclusive, uma das metas da Agenda de 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas, que visa erradicar qualquer tipo de trabalho infantil até 2025.
Conforme dados de 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PnadC), há 2,7 milhões de crianças e adolescentes de cinco a 17 anos em situação de trabalho infantil. Uma realidade preocupante, visto que as crianças que trabalham, além de serem privadas de uma infância plena, com sonhos, brincadeiras e educação, carregam graves consequências para a vida adulta, como impactos físicos, psicológicos e econômicos.
Por isso, a abordagem voltada à educação, do ARISE, é tão importante para garantir que os estudantes estejam protegidos do trabalho infantil. As ações do programa, que têm nos professores aliados imprescindíveis, promovem o acesso à educação, à melhor infraestrutura nas escolas e geram a oportunidade de aprender diferentes atividades em aulas no contraturno escolar.
Por meio do ARISE são contratados professores que ministram oficinas de esportes, dança, música, entre outras. É o caso de Limberger e Guimarães, professores, oficineiros contratados pelo programa.
Pequenas grandes conquistas
Limberger está na função há quatro anos e é apaixonado pela sua profissão. “Se era para ser professor, tinha que ser de Educação Física”, afirma ele que, atualmente, trabalha com uma turma de 36 alunos do 5º ao 9º ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Santo Antônio, localizada na comunidade de Taboãozinho, a cerca de 20 quilômetros do centro de Arroio do Tigre.
“É uma profissão em que eu gosto muito de trabalhar, porque quando inicia tem uns que não sabem nem correr direito, aí você apresenta o volêi e o atletismo, por exemplo, e começa a ver eles evoluindo. E quando eles percebem que estão melhorando te abraçam e dizem que você é o melhor professor. É muito gratificante”, afirma Limberger, relembrando o que considera um dos maiores feitos que conseguiu com o projeto: levar duas alunas para a etapa regional do Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs), promovidos pela Secretaria de Estado da Educação.
Para ele, isso só foi possível devido ao tempo que o projeto lhe proporciona para trabalhar tática e os fundamentos dos esportes de maneira mais aprofundada. A primeira conquista foi em 2018, na categoria arremesso de peso, e a outra, já em 2019, na corrida de 800 metros rasos. “Somos uma instituição pequena e a gente quase alcançou a disputa estadual. Isso é muito satisfatório e marcante para mim, para os alunos, para a escola e para a comunidade”, conta Limberger.
A volta por cima por meio da educação
Leonardo Guimarães é oficineiro do ARISE há pouco mais de um ano. Atualmente, trabalha com 60 alunos em oficinas nas escolas Seomar Mainardi, em Sobradinho e São João Batista La Salle, em Arroio do Tigre.
Ainda estudando Educação Física, ele está seguindo os passos da família, já que seu pai tem uma relação forte com o futsal. O profissional realiza um trabalho no qual enxerga um significado maior depois de ter passado por uma fase de vida conturbada. “Ser professor me faz muito bem e é um combustível para minha vida, pois no meu emprego eu posso ajudar os jovens a se manterem afastados do caminho das drogas e do trabalho infantil”, afirma.
Assim, o envolvimento com o esporte e as lições sobre comprometimento, disciplina, respeito e superação vão transmitindo valores, e os resultados são percebidos dentro e fora de quadra. O principal retorno que recebe é o carinho dos alunos. “Um dos dias mais marcantes para mim foi quando os alunos de uma escola se reuniram, montaram um cartaz com uma foto minha com mensagens de amizade e felicitações pelo meu aniversário”, relembra Guimarães emocionado.
Trabalho que dá resultado
As comunidades nas quais Limberger e Guimarães atuam possuem um histórico de trabalho infantil. Ou seja, as famílias dessas localidades tinham, por questões culturais, o costume de colocar crianças e adolescentes para realizar atividades na lavoura ou em casa que colocavam em risco sua saúde, sua segurança, sua moral ou interferiam em sua educação e capacidade de se beneficiar dela. Por esse motivo, ambos se sentem gratos por, além de conseguirem atuar em suas áreas, participar de um projeto tão importante.
“Esses jovens que vêm de berço da agricultura têm uma tendência a ficar trabalhando na lavoura. É muito bom trabalhar em uma iniciativa que os afasta do trabalho infantil, das ruas e permite que eles vivam a infância e adolescência”, afirma Guimarães.
Como atua há mais tempo no ARISE, Limberger nota que o trabalho tem impactado a comunidade, percebendo, inclusive, maior disposição dos alunos. “Quando comecei era muito recorrente os alunos relatarem que tinham ajudado em casa ou na lavoura e estavam muito cansados, perdiam o interesse na aula. Hoje, isso é muito mais raro e a gente sente eles muito mais animados”, avalia.