Como mostra reportagem do G1, os programas de composição de renda e manutenção de emprego foram fundamentais para amortecer a queda no segundo trimestre, em especial o Auxílio Emergencial. A dúvida agora é o potencial que os auxílios terão para incentivar a economia que vem reabrindo lentamente.
Com bares, restaurantes e comércio totalmente fechados em abril, não havia para onde o consumo extrapolar além do básico, como supermercados e farmácias. Nos meses de maio e junho, começou a se desenhar um avanço, ainda que longe da mesma força do pré-crise.
No terceiro trimestre, além do reforço de renda dos auxílios para quem tem renda mais baixa, os economistas apostam que o aumento de poupança em classes mais altas pode compensar o consumo represado no trimestre anterior.
Nível de atividade mensal em 2020
Segundo estimativa do Itaú Unibanco, a renda guardada pelo brasileiro oscilava em um patamar de 10% da renda antes da crise. Os economistas do banco observaram um salto para 18% durante a pandemia.
Com dinheiro na mão, os indicadores de acompanhamento diário de atividade do banco passaram a mostrar que o setor de serviços prestados às famílias – justamente os bares, restaurantes, viagens, entre outros – teve em agosto seu primeiro momento de melhora. De abril a julho, o segmento amargou uma queda à metade do que se consumia antes do início da crise.
“O agronegócio nem sofreu com a crise; a indústria caiu forte em abril, mas está se recuperando rápido; e os demais serviços, como transportes e comércio, estão em melhor momento. Essa evolução já traz um carrego positivo para o terceiro trimestre”, diz Luka Barbosa, economista-sênior do Itaú Unibanco.
Para que esse cenário se mantenha e haja uma retomada vigorosa, o país depende de um controle pleno do coronavírus. No meio do terceiro trimestre, que termina neste mês de setembro, o Brasil ainda enfrenta média móvel de cerca de 900 mortes por dia pela Covid-19.
A esperança dos economistas é de que não se dê passos para trás causados por novas ondas de contágio e medidas de isolamento. “O mercado, como um todo, espera que a economia vai estar mais aberta amanhã do que hoje. E mais aberta no mês que vem do que neste”, afirma Barbosa.
Para Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, o momento de calmaria, em que o brasileiro tem acesso à renda, poderia ser usado para discutir mudanças estruturais para a entrada de 2021. O economista acredita que os riscos às contas públicas não estão tendo a devida atenção.
É um momento em que a relação dívida/PIB do país se aproxima de 100% e o economista lembra que o governo envia sinais trocados sobre seu compromisso com a responsabilidade fiscal. “Se essa agenda fiscal for comprometida, seja pelo próprio governo, seja com apoio do Congresso, o mercado fica mais nervoso e atrasa uma evolução do quadro”, afirma Ramos.
Com déficit de R$ 800 bilhões previstos para o ano, Ramos destaca que o investimento fiscal “extraordinariamente elevado” foi necessário. Mas, depois de um longo período de fragilidade nas contas públicas, só com boas garantias de previsibilidade de gastos seria possível manter o interesse do investidor no país, que proporcionaria retomada do investimento e emprego.
“Brasil continua sendo uma economia com produtividade baixa, crescimento baixo. Você não melhorou nesse sentido, e sabemos que eventualmente até piorou em potencial quando as coisas se normalizarem”, diz.
Uma mudança de direção, diz, seria grave o suficiente para que os economistas voltassem a fazer contas.