Liderança em tempos de adversidade
Atitudes dos líderes em tempos de pandemia
por Luiz Gustavo Tozo (*)
Estamos em julho de 2020 e completamos quatro meses de quarentena. Nesse período vimos a quantidade de contaminados com o Covid-19 no Brasil superar 2.500.000 de casos e o número de mortes ultrapassar a triste marca de 90.000 pessoas. Para piorar a situação, estamos sofrendo as consequências dessa pandemia através da queda brutal da atividade econômica. Segundo o IBGE, o varejo brasileiro em abril de 2020 apresentou um volume de vendas 17% menor se comparado com o mesmo período do ano anterior. Quase 600 mil empresas encerraram suas atividades com a eliminação de milhares de empregos. Somente postos de trabalho com carteira assinada já foram ceifados 1.200.000 mil empregos, segundo dados do CAGED, fora os trabalhadores informais, que movimentam a economia do nosso país. Estima-se alguns milhões impactados pela crise.
Diante dessas notícias, o que temos observado diariamente nos noticiários são posicionamentos contraditórios das nossas lideranças políticas, sanitárias, governamentais e empresariais.
Desde declarações infelizes (com raras exceções) dos nossos governantes, que invariavelmente colocam a população em grande dúvida de como devem se portar ou agir diante desse temido vírus, à ineficácia nas ações por parte dos responsáveis pelas finanças federais, estaduais e municipais, fazendo com que os empresários percam sua confiança e perspectiva de futuro, até atitudes individualistas por parte de alguns empresários e setores que os representam que demonstram nessa hora um verdadeiro “cada um por si”. Vimos alguns exemplos negativos de abertura precoce de lojas em determinadas cidades com um agravamento no número de contaminados na sequência e outros tentando encontrar uma brecha na legislação para manterem seus negócios abertos alegando serem itens de necessidade essencial. Por meio de casos como esse, que observamos que uma grande parte dos líderes não está preparada para agir em momentos de adversidade, pois foram moldados para o sucesso e não possuem repertório para atuarem com cenário adverso, com algumas boas e raras exceções.
Ora, em momentos de adversidade o que esperamos das lideranças é que nos encorajem, nos mostrem o caminho e que sejam transparentes para conseguir o engajamento das pessoas. Nessa linha, merece um destaque a Primeira Ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, que tem dado um ótimo exemplo à frente da crise do coronavírus. Ela diariamente concede coletivas de imprensa, apresenta a evolução dos casos, mostra tudo com transparência e faz com que o comprometimento seja bastante elevado, com uma altíssima taxa de adesão ao confinamento e, consequentemente, a quase eliminação do vírus naquele país.
Outra atitude inovadora vem das Lojas Renner, criando uma estrutura de concessão de crédito aos pequenos e médios empresários (fornecedores da empresa) para permitir a eles um fôlego financeiro para suportar esse período de baixa nas vendas. Dessa forma, a empresa conseguiu manter funcionando sua cadeia de fornecedores sem ter interrupções na sua linha de distribuição e ajudou o fomento do empresariado local com a manutenção de empregos fazendo com que a economia naquela região não se degradasse ainda mais. Essa atitude foi motivada pela necessidade em socorrer esse pequeno empresário, que não obteve acesso ao burocrático programa de crédito, disponibilizado pelo governo federal, evitando com que toda uma cadeia de distribuição quebrasse.
A verdadeira liderança é testada quando as coisas não correm conforme o planejado ou quando saem do controle do líder, afetando a capacidade de inspirar e envolver as pessoas para cumprir a promessa da estratégia. A adversidade testa tanto o caráter de um líder quanto a força do comprometimento e do envolvimento dos membros da equipe. O cenário com o “vento a favor” facilita exercer a liderança, porém isso não é garantia de sucesso – quando a organização passa por momentos de adversidades, dificilmente seus líderes possuem repertório para superar esse desafio, cada vez mais comum no dia a dia das empresas e potencializado nesse momento de pandemia.
Então, como mudar esse cenário? O que um líder deve fazer quando surge uma adversidade? Em primeiro lugar, líderes eficazes mantêm a calma e não deixam que aqueles que lidera acreditar estar em pânico e mais:
– Líderes eficazes dedicam um tempo para avaliar as opções para lidar com as adversidades;
– Depois, eles ajustam a estratégia ou planejam lidar com o desafio inesperado;
– E, por fim, eles se comunicam, se comunicam, se comunicam! Isso significa diálogos abertos e transparentes sobre a adversidade e planos para lidar com ela. O que também denota fornecer abertura para que outras pessoas façam perguntas e comentários sobre o impacto dessa tal adversidade em suas funções profissionais.
Líderes que não estão em contato com quem são e o que sentem são menos eficazes. Eles podem rejeitar o feedback, deixar de ver consequências negativas potenciais ou reais de suas ações, responder mal ao estresse ou perder sinais importantes de relacionamento de outras pessoas. Talvez o mais significativo seja que eles não lidam bem com a mudança. Somente quando os líderes se entendem e reconhecem suas contribuições e limitações é que eles demonstram resiliência e capacidade de adaptação.
Exemplo disso, escrevo sobre esse tema, como coautor, em um capítulo do livro Liderando Juntos, publicado pela Literare Books International, onde narro minha experiência vivenciada em exemplos de como as lideranças se portaram mediante momentos de adversidade e apresento um exemplo de sucesso que vale a reflexão.