Índice de desenvolvimento humano global pode cair pela primeira vez desde 1990
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global pode retroceder neste ano pela primeira vez desde que o conceito foi desenvolvido, em 1990, alerta o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em relatório divulgado nesta quarta-feira (20).
O IDH global é uma medida combinada dos níveis mundiais de educação, saúde e padrão de vida. No total, são considerados os indicadores de 189 países, incluindo o Brasil.
“O mundo passou por muitas crises nos últimos 30 anos, incluindo a crise financeira global de 2007 a 2009. Cada uma delas afetou fortemente o desenvolvimento humano, mas, em geral, os ganhos de desenvolvimento foram acumulados globalmente ano a ano”, afirmou o Administrador do PNUD, Achim Steiner. “A covid-19, com seu triplo impacto em saúde, educação e renda, pode mudar essa tendência.”
Segundo o documento, as quedas nos níveis fundamentais do desenvolvimento humano estão sendo sentidas na maioria dos países, sejam estes ricos ou pobres. A estimativa do Pnud é de que a renda per capita global recue 4% neste ano.
Educação
Por outro lado, estima-se que a queda no IDH seja muito maior nos países em desenvolvimento, já que estes estão menos preparados para lidar com as consequências socioeconômicas da pandemia, do que nos países mais ricos.
Um exemplo deste cenário está na área na educação. As estimativas do Pnud para a taxa de abandono escolar indicam que 60% das crianças em todo o mundo não estão recebendo educação, um nível nunca visto desde os anos 1980.
Muito disso é explicado pela falta de acesso à internet. Com escolas fechadas e grande exclusão no acesso ao aprendizado online, as estimativas do Pnud mostram que 86% das crianças da educação primária estão, agora, efetivamente fora da escola em países com desenvolvimento humano baixo – em comparação com apenas 20% delas nos países com desenvolvimento humano muito alto.
Por isso, a organização recomenda que os líderes dos países implementem ações para aumentar o acesso à internet e, com isso, diminuir as diferenças no acesso à educação.
O Pnud estima que o custo para fechar a lacuna do acesso à internet em países de renda baixa e média é de apenas 1% dos pacotes emergenciais de auxílio fiscal que as nações estão implementando para combater os impactos do coronavírus.
“Esta crise mostra que, se não conseguirmos trazer a igualdade para o conjunto de ferramentas de políticas, muitas pessoas ficarão ainda mais para trás. Isso é particularmente importante para as ‘novas necessidades’ do século XXI, como o acesso à internet, que está ajudando a nos beneficiarmos da educação continuada a distância, telemedicina e trabalho remoto”, diz o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud, Pedro Conceição.
Desigualdade de gênero
O relatório aponta ainda que a atual crise gera outros problemas, como por exemplo, a dificuldade em de se avançar na igualdade de gênero.
“Os impactos negativos sobre mulheres e meninas abrangem aspectos econômicos – ganhos e economias cada vez menores, insegurança no trabalho, saúde reprodutiva, aumento do trabalho não remunerado e violência baseada em gênero”, diz o documento.
Para lidar com a crise atual, a Pnud recomenda 5 etapas prioritárias para as lideranças dos países:
- proteger os sistemas e serviços de saúde
- aumentar a proteção social
- proteger empregos, pequenas e médias empresas e trabalhadores informais
- fazer com que as políticas macroeconômicas funcionem para todos
- promover a paz, a boa governança e a confiança para construir coesão social
Por fim, o Pnud faz um apelo à comunidade internacional para investir rapidamente na capacidade dos países em desenvolvimento de seguir essas etapas.
(G1)