•  segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Coronavírus: planejamento é a palavra-chave para as empresas

Por Marcos Yabuno Guglielmi

A sensação de estar com a corda no pescoço já é comum para muitas empresas, principalmente quando se trata do pequeno e médio negócio. Em 2015, uma pesquisa do JPMorgan Chase Institute revelou que metade das pequenas empresas nos Estados Unidos tinha caixa para sobreviver por apenas 27 dias sem novas receitas. De lá para cá, pouca coisa mudou e ainda fomos surpreendidos com a pandemia do Covid-19.

A falta de planejamento nas empresas é atemporal. Quando pensamos em quantas famílias dependem do funcionamento de um mercado de bairro, uma mercearia ou pizzaria, entendemos a gravidade que é a fonte de receita de tantas pessoas ser bruscamente interrompida, como no caso de uma determinação de isolamento.

As demandas do dia a dia, naturalmente, consomem tanto o empresário que acaba sobrando pouco tempo para preparar os passos para os próximos meses. Bom, “falta de tempo” para planejar tem sido a desculpa dos empresários, mas o que se observa é que fazer planejamento dá trabalho, exercitar a capacidade de prever acontecimentos não é fácil, então eles vivem o dia-a-dia, resolvendo os problemas conforme aparecem, sem se preocupar em preveni-los. Além disso, a falta de conhecimento sobre como fazer um planejamento bem estruturado também é prejudicial. Há ainda quem o faça corretamente, mas que acabe não seguindo o que foi planejado ou abandonando o plano no meio do caminho.

A lógica é mais simples do que parece: se, em tempos de abundância, eu fizer um planejamento financeiro, nas épocas de escassez, terei plenas condições de passar pelas adversidades sem tantos impactos. Mas, se nunca me planejo para fortalecer meu caixa, quando as vendas caírem fortemente, terei que tomar ações de urgência, como demissões, empréstimos, entre outras.

Um bom planejamento, seguido à risca, é capaz de evitar que o empresário viva pela urgência e é o remédio para evitar que os problemas continuem aparecendo no dia a dia. Ele deve conter objetivos claros e específicos, estratégias com foco nesses objetivos e o passo a passo para que elas sejam atingidas. Também é recomendado reunir semanal ou quinzenalmente todos os envolvidos no planejamento para fazer o acompanhamento dessas atividades, medindo sua eficácia e fazendo os ajustes necessários. Além disso, a empresa deve pensar, pelo menos, para os próximos seis meses – o ideal mesmo são planejamentos trimestrais, uma vez que os anuais e até os semestrais tendem a ser deixados de lado.

Uma empresa deveria ter pelo menos três meses de caixa a custos e despesas fixas (idealmente seis meses) como reserva para passar por períodos de baixa. Alguns acreditam que este parâmetro é impossível de se obter. Normalmente, estes são os mesmos que não se planejam para tanto, e de modo geral, não conhecem de forma precisa seus custos e despesas. Todos sabem da necessidade de se apurar, medir, analisar e gerir os custos e despesas, mas a prática é bem diferente da teoria na esmagadora maioria dos casos.

Por fim, um ponto importante é que não dá para culpar o coronavírus pela falta de planejamento. Um dado divulgado ao IBGE referente a 2014 mostra que, de cada 10 empresas abertas no Brasil, seis fecham as portas antes de completar cinco anos. Ou seja, o problema não é de hoje. Claro que a pandemia do Covid-19 atingiu a humanidade de maneira absurda, mas, como todas as outras, faz parte de um ciclo com início e fim, e as empresas que souberem enxergar uma oportunidade neste momento sairão dessa crise ainda mais fortes. O que podemos esperar é que empresas que já possuíam uma cultura de planejamento conseguirão driblar as dificuldades com mais tranquilidade e fazendo menos sacrifícios. Sem dúvidas, o planejamento é o que poderá salvar as empresas da crise do coronavírus. Só que agora o planejamento é de contingência para a crise e precisa ser feito imediatamente. Então, nunca foi tão importante fazer planejamento, mesmo parecendo um paradoxo agora que a incerteza é alta.

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