Capital Research analisa com otimismo setor de minério de ferro
A casa de análises acredita que a Vale é uma boa opção de investimento, apesar das questões reputacionais envolvendo o nome da companhia no passado recente
São Paulo, 27 de maio de 2020 – A casa de análises Capital Research lançou, recentemente, um relatório em que analisa a situação financeira da Vale e a demanda mundial por minério de ferro. No material, o analista Felipe Silveira fala dos impactos das tragédias decorrentes do rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, que levaram a empresa a mudar seus métodos de processamento na mineração, ter gastos bilionários com as provisões relativas aos dois acidentes e reduzir a sua produção de minério de ferro em 21,5%, em 2019, gerando 301,9 milhões de toneladas de minério de ferro. Dessa forma, a Vale perdeu o posto de maior produtora da commodity no mundo para a anglo-australiana Rio Tinto, que produziu 326 milhões de toneladas no ano passado.
Todos esses motivos fizeram as ações da Vale despencarem nos últimos tempos, mas neste ano a companhia já está próxima de recuperar o posto de maior produtora de minério do mundo. “Neste ano, a Vale voltaria ao topo do ranking, com uma produção entre 340 e 355 milhões de toneladas, porém, reduziu o guidance por conta dos possíveis impactos do coronavírus e agora projeta produzir entre 310 e 330 milhões de toneladas de minério. Enquanto isso, a Rio Tinto espera produzir algo entre 324 e 334 milhões de toneladas, ou seja, a briga pelo topo pode ser na vírgula, literalmente”, explica Silveira.
Mas apesar da brasileira e da australiana estarem disputando o topo do ranking em termos de quantidade, a Vale tem uma grande vantagem: “A commodity teve um começo de década mais pressionado em decorrência da expansão na produção de minério, principalmente na Austrália, mas também no Brasil. Por aqui, a perspectiva de aumento tinha um nome: S11D, um projeto no Pará que adicionou 90 milhões de toneladas de minério de alta qualidade na capacidade de produção da Vale, ou seja, mais de 3% da produção mundial”, indica Silveira.
O analista também explica que esse projeto recebeu investimentos de US$ 14,3 bilhões, considerando o que foi gasto na mina, na planta de processamento e na área de logística, que inclui a construção de uma ferrovia que leva o minério até um porto privado da Vale. Tanto investimento é justificado pelo fato de que o S11D, no Pará, “tem um dos menores custos de produção do mundo e, por ter qualidade superior, com até 67% de teor de minério de ferro contra 62% da média, permite que a companhia negocie o produto com um prêmio em relação à cotação básica da commodity”, o que é aumenta a margem da Vale e configura uma vantagem competitiva importante em relação a suas concorrentes globais.
A Capital Research traz, ainda, as estimativas futuras do setor: segundo dados da Fitch Ratings, uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito do mundo, a produção de minério de ferro deve crescer a uma taxa anual de 0,8% entre 2020 e 2029, o que representa uma forte desaceleração em relação ao visto na década anterior, de 3% ao ano. A Austrália, principal responsável pelo crescimento nos anos 2010, com 8,7% ao ano, deve crescer a uma taxa de 0,7% nos próximos dez anos, enquanto a projeção para o mercado é de aumento moderado. “Um ponto importante é que essas projeções já consideram que a Vale pode voltar ao patamar próximo de 400 milhões de toneladas já a partir de 2022”, afirma o especialista.
Já sobre a demanda do produto, Silveira esclarece que a indústria de aço, cujo principal representante é a China, tem papel importante, com usos diversificados, principalmente, entre construção civil, indústria automotiva e de eletrodomésticos de linha branca, como geladeiras e máquinas de lavar. O gigante asiático respondeu por mais da metade da produção de aço do mundo, em 2018, produzindo oito vezes mais do que o segundo colocado, a Índia. “Basicamente todo o crescimento da produção veio da China a partir do ano 2000. Enquanto no resto do mundo houve um aumento de pouco mais de 1% ao ano, a produção chinesa cresceu, entre 2000 e 2018, a uma taxa anual de mais de 11%”, comenta Silveira citando os dados da World Steel Association.
O relatório de Felipe Silveira, no entanto, faz um alerta: “A grande questão é saber o que esperar da China pós-coronavírus. O preço do minério tem se mantido razoavelmente estável nesse começo de ano, na contramão das demais commodities. Isso porque a expectativa inicial era de que um grande pacote de investimentos do governo chinês, com foco principalmente em infraestrutura, pudesse acelerar a retomada do crescimento após os impactos da pandemia no primeiro trimestre. Isso ainda não aconteceu, mas a produção industrial chinesa já voltou a mostrar uma recuperação em abril, após a saída do país do regime de lockdown”, comenta Silveira ao se referir ao aumento de 1,3% da produção de aço da China nos quatro primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2019.
Apesar dessa dúvida, a casa de análises considera razoável estimar que o crescimento chinês na próxima década deve superar com alguma folga a fraca expansão projetada para a oferta de minério de ferro e considera que a Vale está bem posicionada no mercado, mas com um preço bastante descontado. “Por conta disso, consideramos a Vale uma boa opção de investimento, apesar dos impactos sofridos nos últimos anos. É bom destacar, ainda, que ao investir na companhia, o investidor também aumenta sua exposição à moeda americana, o que é bastante saudável neste momento”, finaliza Silveira.