Que sorte a nossa
Nunca fui do tipo de acreditar em azar, mas, em alguns momentos da vida, parece que ele acreditou bastante em mim. Que o digam meus velhos colegas de escola, que me apelidaram carinhosamente de Uruca (abreviação de Urucubaca, que quer dizer má sorte). A alcunha, no entanto, não é justa.
Tudo bem que no jogo (de truco) bem que fiz por merecer o disparate, mas estive acompanhado de boa sorte desde antes de ingressar no curso técnico onde ganhei a AKA (do inglês, “Also Known” As, algo como “também conhecido como”). Tanto antes de entrar, quando “sobrevivi” ao ensino público estadual e aprendi o suficiente mesmo com ausência de professores, como de matemática, por exemplo, que tive aulas vagas por quase três meses no último ano.
E foi com muita sorte também que passei no Vestibulinho da ETEVAV, quando a concorrência era de doze candidatos por vaga – mesmo que tenha levado os três anos aos trancos e barrancos, reflexo de não ter estudado nem para entrar. Como eu disse: sorte. E que esteve presente também na minha bolsa de estudos para faculdade. Foram quatro anos e muitas consultas médicas e pontos no meu pai que se acidentou na época, mas, no fim, saí com o diploma – pouco antes do Gilmar Mendes decretar que ele não valia muita coisa. Azar.
Mas embora eu não tenha crenças sobre trevos de quatro folhas, pés de coelho e afins, é muito comum que as pessoas se entreguem a crendices sobre sorte e azar. Tem gente que não começa o dia sem ler o horóscopo, tem outras que rejeitam certas cores, não passam embaixo de escada (nesse caso, acho perigoso até), desviam de gato preto, entre outras maluquices.
Alguns casos, como do rei Roberto Carlos, ultrapassam os limites da sorte e entram no campo do Transtorno Obsessivo Compulsivo, ou TOC para os íntimos, mas não vem ao caso.
A verdade é que sorte e azar, assim como luz e sombras, acompanham a humanidade desde a sua criação. Na mitologia Grega, por exemplo, a sorte era representada pelas Moiras, que eram três tiazonas de aspecto sinistro responsáveis pelo fio da vida dos indivíduos – tipo aquela sua tia que vivia te perguntando “e as namoradinhas?”. Por essa mitologia, a sorte dependia da Roda da Fortuna, que aliás, Fortuna seria o nome da figura responsável pela sorte na mitologia romana.
Na cultura popular (e na cultura pop inútil), também são muitos os personagens baseados nessa ideia, como o Gastão, da Disney, o pato mais sortudo do mundo (e se não sabe quem é, vá ler um gibi ou assistir todos os episódios de Duck Tales – versão original – por favor!).
Até nos quadrinhos (e depois no cinema, em Deadpool 2), sorte se tornou um superpoder e (estou ignorando as explicações pseudocientíficas para) Dominó é uma personagem que tem como poder a sorte; o que nem foi inédito já que, anos antes, as HQs já tinham apresentado o personagem Longshot, que possui o poder de “Manipular o campo de probabilidade, que lhe confere boa sorte”. Tá, sei. Longshot, aliás, em inglês é uma expressão usada para dizer que algo foi pura sorte ou como um “tiro no escuro”.
Enfim, sorte e azar, todos podemos ter em alguns momentos (diferente de um certo político que afirmou ter ganhado 200 vezes na loteria), mas geralmente o que define nosso destino é muito mais relacionado às decisões e atitudes que tomamos do que um bilhete em um biscoito chinês.
Carregar um pezinho de arruda na carteira pode até deixar alguns mais confiantes, mas, agir com consciência e sempre procurando a melhor maneira – tanto para si quanto para os outros – não deixa de ser uma ajuda por demais importante para nossa amiga sorte.