Juntos e Shallow Now
Como há́ muito tempo não se via em nosso país tão polarizado, recentemente os brasileiros se uniram por uma causa em comum, algo tão importante para os rumos da nossa sociedade que não poderia ser ignorado. Sim, eu estou falando de cortes na educação da versão brasileira de Shallow, vencedora do Oscar de Melhor Canção com Lady Gaga e Bradley Cooper e que, na versão de Paula Fernandes e Luan Santana, virou Juntos (e Shallow Now).
A canção virou meme e foi ridicularizada antes mesmo de ser lançada – a hashtag “MorreUmaEstrela” bombou nas redes sociais – e nem a “fantástica” revelação de Paula no Fantástico, de que a música brasileira não é muito melódica (talvez, para quem não fala português…) foi suficiente para livrar a cantiga do fracasso.
Mas acho que só faltou um pouco de experiência, afinal, versões tupiniquins de sucessos internacionais não são novidade. Taí Latino por exemplo, que nos brindou com Festa no Apê, versão em português de Dragostea Din Tei, sucesso romeno e que, por aqui, com nosso poeta, virou Bundalelê.
Recordo piamente dele explicando ao Faustão como escrevera tão notório sucesso musical, contando que possuía um livro de rimas, mas que no “bundalelê” ele pensou sozinho. Um gênio.
Mas não é só́ na música que somos craques em versões brasileiras, basta ver a variedade inédita de sushis que inventamos por aqui; tem com cream cheese, salsicha, com Doritos (promovendo a integração entre Japão e México), com chocolate, com Nutella, com morango, com maracujá́. Fora os outros pratos estrangeiros que transformamos em delícias (ou nem tanto).
Mas assim como Juntos e Shallow Now jamais deveriam estar… bom, juntos, há muitas coisas que deveríamos separar definitivamente o quanto antes.
Para começar, poderíamos separar a uva passa de qualquer coisa que seja comestível. Nada de colocar no arroz, nos cereais, nas frutas, em lugar nenhum.
Depois, também poderíamos separar políticos e corrupção, algo que em nosso país se mostra historicamente ligado, muito mais do que gostaríamos de ver. O mesmo vale para alguns grandes empresários empreiteiros (cof Odebrecht cof), que profissionalizaram a “arte” da propina, com departamento, planilhas, codinomes e muito, muito dinheiro ilícito.
E seguimos separando o ódio do ser humano. Assim como seria ótimo se conseguíssemos nos separar do preconceito, da discriminação, da maldade. Ou talvez, fosse melhor aproveitar que o Brasil há muito vem se tornando cada vez mais o país do contrário, seguir o exemplo da música e colar de vez as metades para que fiquem juntos e shallow now.
Como a educação e as pessoas que querem se educar; que se juntem a honestidade e os poderosos; que estejam lado a lado o respeito às mulheres e a sociedade, principalmente os homens, que deveriam chutar de vez dessa relação o machismo e o feminicídio; que se encontrem os direitos universais e os previstos na Constituição com todas as pessoas – e não só as que têm dinheiro e condições de fazê-los serem respeitados; que as crianças estejam com as brincadeiras, a fantasia e os bons tratos – os melhores possíveis; que os doentes possam se encontrar com os médicos (principalmente no SUS); que os cerca de 13 milhões de desempregados possam estar juntos de um emprego; que a segurança acompanhe cada cidadão que caminhar na rua.
Enfim, são muitos encontros que podemos sonhar, sabendo que, se cada um fizer a sua parte, as chances de que essas coisas aconteçam é muito maior para todos e que, talvez um dia, possamos viver mais em paz e juntos. E shallow now.