•  quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Chadwick Boseman se foi. Mas o Pantera Negra será para sempre

Lembro que muitos anos atrás, quando faleceu Christopher Reeve – o mais famoso Super-Homem dos cinemas – fiquei bastante chateado. Na época, escrevi um texto que relembrava a sua importância para o personagem e o quanto ele era responsável por nos fazer acreditar que “um homem pode voar”.

Pois bem, no dia 28 de agosto deste já fatídico ano de 2020, por diversos motivos, faleceu Chadwick Boseman, conhecido por dar vida ao herói Pantera Negra nos cinemas. E mais uma vez, mesmo sem – obviamente – conhecer o ator, o sentimento de perda, como se tivesse morrido um conhecido próximo, foi muito grande. Não apenas porque Chad era jovem demais (apenas 43 anos), esbanjava talento e tinha uma carreira já brilhante. Nem porque, assim como vários outros atores por quem acabamos nutrindo carinho especial graças aos personagens que interpretam, nos sentimos próximos e torcemos pelo seu sucesso. Havia algo mais. Havia uma importância difícil de mensurar no que o ator representava, no que Pantera Negra representou para toda uma geração.

Mercadologicamente falando, Chad fez pelo personagem o mesmo que Robert Downey Jr. fez pelo Homem-de-Ferro: elevou um herói que não era tão popular para o panteão dos grandes super-heróis. Mas em outros aspectos, a importância vai muito mais além.

O Pantera não é o primeiro herói negro, nos próprios filmes da Marvel já havia surgido o Falcão, que <spoiler> termina como o novo Capitão América. No entanto, até então, ele não passava de um coadjuvante de luxo, quase um “sidekick” de Steve Rogers.

Já o Pantera, embora tenha aparecido também em um filme do Capitão, ganhou seu próprio longa e iniciou ali um legado que, pode ter certeza, mudou e ainda vai mudar a vida de muitas crianças, pela questão da identificação, da representatividade. Se até então parecia difícil para um menino negro se enxergar como um super-herói, a partir de Pantera Negra, muitos puderam ver que eles podem ser sim, protagonistas heroicos.

O filme também acertou em cheio ao trazer uma discussão inevitável envolvendo o racismo. O vilão (com interpretação impecável do também talentosíssimo Michael B. Jordan) não era apenas um cara mau querendo dominar o mundo, mas alguém que, depois de sofrer e ver tantos dos seus sofrendo, descobre que pode virar o jogo, graças ao poder de Wakanda, a cidade fictícia e futurista governada pelo Pantera, uma utopia em plena África.

A discussão sobre o filme, sobre sua importância e sobre representatividade na cultura, é extensa, ainda mais em um momento em que movimentos como Black Lives Matter estão tão relevantes e necessários. No Brasil mesmo, vale destacar que informações do Atlas da Violência mostraram que entre 2008 e 2018, a taxa de homicídios de negros subiu 11,5%, enquanto que para os não negros, baixou 12,9%. Exemplos de racismo, aliás, são muitos, acontecem todos os dias, em maior ou menor grau e, filmes como Pantera Negra são muito importantes para ajudar na luta contra o racismo e a discriminação racial.

Então, também por isso, além dos motivos mencionados lá no início, a morte de Chad é tão sentida. Não faleceu apenas uma pessoa querida pelos amigos e familiares, um ator admirado e talentoso, um jovem com carreira brilhante pela frente. Para muitos, faleceu realmente um herói, alguém para se espelhar dentro e fora das telas.

Seja como for, ainda que breve, a vida de Boseman não será esquecida e nem sua importância ignorada. Graças ao que ele fez no cinema, “Panteras Negras” foram despertados em milhares de crianças mundo afora que, se até pouco tempo, talvez não se achassem no direito de sonhar serem heróis, acordaram sabendo que podem ser isso e muito mais. Podem ser reis.

Wakanda Forever!

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