•  sábado, 23 de novembro de 2024

A vida é uma mensagem instantânea

A vida hoje é dinâmica, rápida, urgente e emergente, ou, como diria aquele meme, “sem tempo, irmão”. Isso porque, atualmente, estamos online e ligados quase o tempo todo e a forma de nos comunicamos evoluiu demais, a ponto de o telefone, que até pouco tempo atrás era a maneira mais rápida de contato, ter se tornado quase obsoleto.

Fico imaginando como essa atual geração – viciada no agora, que muitas vezes acredita que a vida se resolve (ou se complica) em uma mensagem instantânea – lidaria com as limitações e a necessidade de paciência de antigamente. Claro, faço parte também desse grupo, mas também já estive lá, naquela época em que a gente usava o correio para enviar cartas e não apenas para receber encomendas da China (depois de três meses de espera).

Foi um período interessante. Como escritor, costumava me corresponder com algumas pessoas que nem moravam tão longe e eu poderia perfeitamente conversar pessoalmente ou por telefone. Mesmo assim, era divertido. A dinâmica era totalmente diferente. Perguntar da vida, das novidades, ao mesmo tempo em que contava sobre os últimos acontecimentos “emocionantes” da própria vida tinham um certo charme, demandavam certa paciência e capricho na escrita.

As cartas, a princípio, foram substituídas pelos e-mails. Lembro perfeitamente quando criei o meu primeiro, em um serviço que eu nem sabia que ainda existe, o zipmail (se não estou enganado). Criar um e-mail pessoal fez eu me sentir mais importante do que receber uma carta no endereço dos meus pais, embora ele permanecesse vazio, nem spams chegavam naquele tempo.

Foi mais ou menos nessa época também que começaram a surgir os primeiros serviços de mensagens instantâneas e ao dizer MSN ou ICQ para alguém com mais de 30 anos, geralmente é possível perceber o brilho saudoso em seu olhar. Claro, esses programas não eram portáteis, a internet móvel estava longe de surgir por aqui e os smartphones ainda nem existiam, não, os celulares apenas faziam ligação, custavam uma fortuna e pesavam uma tonelada – pelo menos para o meu bolso e força física, no auge dos meus 50 quilos de músculo osso.

Mas era bastante útil e nos divertíamos. O MSN, aliás, tinha um recurso que era amado/odiado pelos usuários. O botão de “chamar a atenção”, que fazia tremer a tela de quem recebia a mensagem. Não posso imaginar por quantos xingamentos ele pode ter sido responsável, mas que levante o mouse o “MSNeiro” que nunca fez isso só de sacanagem.

No entanto, logo os celulares se tornaram “espertos” e começaram a ser uma parte estendida do nosso próprio corpo. Sair de casa sem levar o aparelho é impensável. Parece que se alguém mandar uma mensagem e você não puder responder no momento, é o fim do mundo. Sua mãe vai enviar o FBI, seu pai vai chamar a Nasa, seus amigos vão dar a maior festa de todos os tempos e você não será convidado e a Caixa Econômica vai desistir de te ligar para avisar que você ganhou na super-hiper-ultra-puxa Mega Sena.

Agora imagina esse desespero todo quando sua única opção era esperar que o carteiro fizesse sua alegria? Mais ainda, imagina Pero Vaz de Caminha nessa angústia, lá em 1500, quando acompanhava Pedro Álvares Cabral descobrindo o Brasil (ou Ilha de Vera Cruz, no caso), aguardando que sua carta enviada para Portugal recebesse as duas marquinhas azuis confirmando o recebimento e leitura? Pobre Caminha, deve ter morrido antes mesmo de sua carta ser lida, já que a descoberta foi em abril e ele morreu em dezembro do mesmo ano.

Hoje, no entanto, a chance disso acontecer seria bem menor, já que ele poderia enviar suas palavras pelo WhatsApp, Facebook Messenger, Direct do Instagram, SMS, Skype, Snapchat, Zello, Voxer, Viber, entre outros tantos aplicativos de mensagens por aí, inclusive até o Telegram, desde que tomasse o cuidado de não expor os desvios da corte nas conversas.

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