A gastura da pandemia
Fernando Machado
Não fosse a terapia de regressão iniciada em fins de 2018 e as intervenções cíclicas do meu psiquiatra, eu estaria hoje — diante do quadro apocalíptico que estamos vivendo — em estado de choque, pálido, inapetente, apático, m
Mas, não é isso que está acontecendo comigo.
Afastei-me das premonições doentias e o ato de editar o livro recém-escrito “GASTURA – rastreando as profundezas da mente” evocou-me fatos históricos de uma época, sem comunicação globalizada, que suscitaram pâ
O que me entristece, porém, é a previsão de que os danos sociais e o transtorno psicológico malévolo da pandemia atual tendem a ser muito mais graves e longos do que a doença em si. Foi o que aconteceu nos episódios semelhantes relembrados no meu livro.
Estou recolhido em quarentena, na minha casa, na freguesia do Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, onde cumpro rigorosamente os procedimentos ditados pelos órgãos de saúde da cidade, incluindo o dolorido afastamento social; mas não estou sofrendo antecipadamente com a doença que não contraí e muito menos com o pânico generalizado que ela está causando.
O desenvolvimento dos episódios de gastura, através de minha vida, sempre me causou anomalia física e emocional sem motivo pertinente e, nas raras vezes em que fiquei realmente doente, a anomalia psicológica foi exagerada e aberrante. Dessa vez, nem o medo de contrair a doença e nem a inédita experiência claustrofóbica do confinamento causou-me gastura nas suas mais variadas maneiras de se apresentar: pânico, irritabilidade, ansiedade, culpa, remorso, desespero e mil outras formas de sofrimento inútil.