A arte de passar vergonha na internet
A internet é uma ferramenta que mudou a forma como nos conhecemos, nos informamos, nos comunicamos, namoramos, enfim, desde que se tornou popular e acessível para grande parte das pessoas, o mundo é bem diferente (pena que, infelizmente, ainda há muitos que nem têm o que comer, quanto mais acesso a esse tipo de tecnologia).
Hoje em dia, as novas gerações já nascem sabendo o que é um smartphone, internet, aplicativos de mensagens instantâneas e redes sociais, aprendem a conviver com essas tecnologias desde sempre e estranham quando não podem contar com elas.
Mas para quem nasceu antes dos anos 90 e chegou na internet quando “tudo ainda era mato”, as coisas podem ser mais complicadas do que parecem e, para utilizar os recursos online, pode ser preciso tomar umas aulas, ou melhor, providenciar a contratação de um “coach” – que tá na moda, embora ninguém saiba exatamente para que servem.
Até porque, se antes o maior problema da internet eram as correntes que vinham por e-mail – e mais lembravam maldições do tipo “repasse para 10 pessoas ou zumbis famintos devorarão seu cérebro e chutarão seu cachorro” –, geralmente encaminhados por pessoas inocentes e encantadas com tudo que a internet nos oferecia, hoje temos uma geração que profissionalizou a arte de passar vergonha online e as redes sociais elevaram à enésima potência essa prática.
Então, o coach de comportamento virtual poderia começar por aí, dando dicas sobre o uso das redes sociais. Uma boa forma de se pensar é que, se você não faria em público aquilo que está postando, talvez seja melhor repensar a postagem. O mesmo serve para comentários fora de contexto ou com linguagem desproporcional à realidade – tipo uns tiozões que mandam aquele “gostosa” para meninas 30 anos mais jovens. Pensando bem, esse tipo de comentário não cabe em nenhuma situação, a não ser que se refira à comida. E aqui vale outra lição importante. Até é válido postar uma ou outra foto da sua refeição em situações especiais (comemorações de namoro, casamento, noivado, funerárias), mas ninguém está interessado em saber o que você come a todo momento. Sério, ninguém está mesmo.
A dica para comentários, aliás, vale para os agressivos e violentos. Se você não diria na cara de certo fulano que o trabalho dele é um lixo ou lhe direcionaria meia dúzia de palavrões pessoalmente, não há porque fazer isso online. Na verdade, nem no mundo real né? Mais amor, por favor.
Ainda sobre redes sociais, seria bom que nosso coach também explicasse que as redes sociais têm funções diferentes. Por exemplo, o Instagram se dá melhor com fotos, o Twitter se beneficia de textos curtos e links, e o Facebook segue buscando se tornar o novo Orkut – que, com participação quase maciça dos brasileiros, transformou-se num condomínio onde penduravam as roupas na varanda, trocavam de roupa com a janela aberta, havia luzes piscantes (gifs) por todos os lados e lugares sinistros e abandonados há muito tempo (as comunidades), até que, provavelmente por desgosto, o criador decidiu “matar” a plataforma.
Mas então, nem toda rede social funciona com os mesmos objetivos. O Linkedin, por exemplo, é voltado para atuação profissional, então não faz sentido postar fotos dançando bêbado em cima de mesa no aniversário do seu avô. Da mesma forma, o WhatsApp, embora possua algumas funcionalidades de rede social – como o status –, não tem essa função. Então, por favor, pare de mandar por mensagem privada as fotos que você posta no status. Sim, você mesmo, que acha que sua vida é tão importante e interessante que seus contatos não podem perder um segundo sequer dela, não faça isso. Já é torturante o bastante ver por engano seus status tediosos, não precisamos receber por mensagem direta.
E na dúvida, lembre-se do que Will Smith, aquele maluco do pedaço disse certa vez em uma entrevista sobre passar vergonha: não é algo novo, mas graças à internet, suas vergonhas online poderão ser vistas para sempre.