•  terça-feira, 26 de novembro de 2024

Primavera Editorial lança “Uma mulher não é um homem”; romance de Etaf Rum se tornou um bestseller no New York Times Book Review

Primeiro romance de Etaf Rum, “Uma mulher não é um homem” aborda a devastadora estrutura doméstica e a opressão das mulheres na cultura palestina. A autora, norte-americana de origem árabe, toma por base as próprias experiências para construir uma história multigeracional sobre a realidade feminina dentro de uma estrutura patriarcal. A narrativa traz, ainda, a jornada de uma jovem mulher que desafia o caminho limitado legado a gerações para reivindicar uma existência traçada com base em sua própria vontade. O best-seller do New York Times, lançado no Brasil pela Primavera Editorial, foi publicado originalmente nos Estados Unidos pela HarperCollins.

São Paulo, 4 de setembro de 2019 – “Você nunca ouviu essa história antes. Não importa quantos livros tenha lido, quantas histórias conheça, pode acreditar: ninguém nunca contou uma história assim. Lá de onde eu venho, nós guardamos essas histórias conosco. Contá-las para alguém de fora é inédito, perigoso e a maior das desonras.” A frase – uma das primeiras do livro “Uma mulher não é um homem” – revela o tom do romance Etaf Rum, que examina três gerações de mulheres de origem palestina, residindo nos Estados Unidos, em uma saga familiar multigeracional. Centrado nas mulheres de três gerações – Deya, Isra e Fareeda –, o romance mergulha nos papeis e expectativas dessas mulheres que vivem em Nova York, no Brooklyn, mostrando como as ideias tradicionais e o feminismo moderno se entrelaçam, iluminando os desafios que imigrantes de primeira e segunda geração enfrentam.

O título é inspirado em uma frase misógina ouvida, repetidamente, por Etaf Rum. Proferida por familiares mais velhos, o dito surgia sempre que ela expressava o desejo de fazer as próprias escolhas; sempre quando se rebelava contra as diretrizes sociais da comunidade palestina. As personagens femininas, mesmo nos Estados Unidos, não contam com liberdade; o então sonho americano passa a ser realizado apenas pelos homens. O romance traz a perspectiva feminina, mostrando como a imigração para a América do Norte afeta essas mulheres. “Um dado importante é que não se refere à religião, mas à cultura patriarcal que leva estruturas de poder abusivas para dentro do casamento e da estrutura familiar. Essa distinção é importante para que a obra, em tempos de preconceito contra o Islamismo, não seja usada para reafirmar noções erradas”, afirma Lu Magalhães, presidente da Primavera Editorial.

Em entrevista, Etaf Rum – que se considera uma mulher mulçumana – comenta que teve receio em abordar o tema, porque sabe o quanto é um tabu na comunidade palestina; ressalta que esse, inclusive, é um desafio que as escritoras árabes frequentemente enfrentam. “Com esse romance, espero transmitir aos leitores, especialmente os que cresceram em circunstâncias semelhantes à narrativa e que foram ensinados que a vida das mulheres é mais limitada que a dos homens; quero reafirmar que essas são crenças tóxicas. Espero que as mulheres reconheçam e possam se libertar”, afirma. Ela acrescenta que, no início da trajetória como escritora, se censurava com medo de violar o código de silêncio da própria comunidade, fazendo-os parecer maldosos ou confirmando estereótipos. “Mas, o romance resultou em uma história empolgante, cuja prioridade era falar em nome de mulheres sem voz; falar que podem relatar as próprias histórias mesmo as mais desconfortáveis”, revela.

Na obra, Fareeda – avó e matriarca da família – está obcecada em manter a reputação da família após uma falha perigosa; Isra, a nora humilde e mãe de Deya, está presa em um casamento com um marido abusivo; a filha adolescente passa os dias tentando descobrir como obter uma educação, enquanto enfrenta reuniões familiares com pretendentes para um entrar em um casamento arranjado. Embora entrelaçadas na mesma narrativa, as três perspectivas mostram como diferentes gerações negociam o poder nas sociedades patriarcais.

TRECHOS DO LIVRO |

Página 9

“(…) Nasci sem voz num dia frio e nublado no Brooklyn, em Nova York. Ninguém falava do que eu tinha. Só fui saber que era muda anos depois, quando abri a boca para dizer o que eu queria e percebi que ninguém podia me ouvir. Lá de onde eu venho, a falta de voz é parte do meu gênero, tão normal quanto os seios no tórax de uma mulher, e tão necessária quanto as gerações futuras que crescem dentro de seu ventre. Mas isso nunca será explícito, claro.”

Página 34

“(…) Deya lembrou-se do último pretendente que também havia retirado o pedido de casamento. Ele dissera aos avós que ela era muito insolente, muito questionadora, e que isso não era muito árabe. Mas o que os avós esperavam vindo para esse país?”

Página 109

“(…) Foi Fareeda que tivera a ideia de Isra não amamentar Deya. A amamentação impede a gravidez, e Adam queria um menino. Isra obedeceu sem resistir, misturando fórmula infantil nas mamadeiras sobre a pia da cozinha na esperança de reconquistar Fareeda.”

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