Com pandemia, setor de franquias cai 10,5% em 2020 e retorna ao patamar de três anos atrás em faturamento
Quase 4 mil unidades fecharam as portas definitivamente no período, segundo ABF. Setor espera crescimento em 2021
No primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, o setor de franquias registrou uma queda de 10,5% no faturamento em relação a 2019, com um total acumulado de R$ 167,187 bilhões. Essa é a primeira queda nominal registrada pelo setor desde o início da série histórica pesquisada e divulgada pela Associação Brasileira de Franchising (ABF). Com esse resultado, o setor volta ao patamar de três anos atrás.
O resultado foi divulgado nesta terça-feira, 3 de fevereiro, e é atribuído à queda no desempenho das redes que precisaram baixar as portas por meses a fio durante os meses mais duros da pandemia e à queda de confiança do consumidor. Isso acarretou o fechamento de quase 4 mil unidades, fazendo com que o total em operação seja 2,6% menor do que em 2019. De acordo com o presidente da ABF, André Friedheim, muitas redes conseguiram segurar unidades com estratégias de repasse de pontos.
O número de marcas franqueadoras caiu de 2.917 para 2.668, uma queda de 8,6%. A avaliação da entidade é que redes menores suspenderam a expansão por franquias durante a pandemia. “Já há alguns anos observamos que existem muitas redes para poucos franqueados no Brasil. É necessário um número mínimo de unidades para que uma marca chegue a um ponto de equilíbrio e nem sempre chega. Muita gente se lança como franqueador, sem estar devidamente preparado”, avalia Marcelo Cherto, sócio do Grupo Cherto.
A combinação de menor número de redes em operação e a manuteção das unidades fez com que a média de unidades por rede subisse de 55,2 para 58,8, um crescimento de 6,5%.
As maiores quedas foram em Hotelaria e Turismo, com 49,8%, Entretenimento e Lazer, com 29%, Moda, com 20% e Alimentação, com 15,5%. Por outro lado, Casa e Construção cresceu 12,8% e Saúde, Beleza e Lazer, 3,1%. Entretenimento e Lazer e Hotelaria e Turismotambém foram os que mais fecharam unidades, com 15,4% e 9,1%, respectivamente. Já Casa e Construção teve uma expansão de 3,7% em lojas.
Na visão de Cherto, mesmo com as quedas, o setor conseguiu números positivos. “Alguns se adaptaram muito rápido e foram copiados pelos outros. Isso certamente contribuiu. Além disso, o setor de franchising é um mercado que se retroalimenta, e isso favorece”, afirma.
Os resultados também refletiram na geração de empregos pelo setor. Em 2019, eram 1,358 milhão de pessoas empregadas diretamente por redes de franquias. Agora, o total caiu para 1,258 milhão.
O setor conseguiu segurar boa parte das perdas com a recuperação apresentada no último trimestre do ano. No período, o faturamento foi de R$ 53,976 bilhões, 1,8% abaixo de 2019, mas 22,8% acima do resultado do 3º trimestre de 2020.
Na visão do presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, o principal fator que propiciou esse resultado foi o auxílio emergencial, que passou a ter resultados mais efetivos a partir do terceiro trimestre do ano, aliado às flexibilizações da quarentena pela diminuição do contágio na maior parte das cidades. “Além disso, tivemos os dados dos empregos formais, que registraram uma melhora no 4º Tri.”
Por segmentos, o quarto trimestre apresentou um resultado significativo para Casa e Construção, com uma variação de 25,6% em relação ao mesmo período de 2019, e Saúde, Beleza e Bem-Estar, com 5,4%. Por outro lado, Entretenimento e Lazer enfrentou uma queda de 15,5% e Hotelaria e Turismo, 39,2%.
Para 2021, a entidade projeta um crescimento de 8% em faturamento. Friedheim avisa, no entanto, que a pesquisa foi realizada no último trimestre e ainda não havia previsão de novas restrições no estado de São Paulo. Ainda neste contexto, o setor espera abrir 5% mais unidades e recuperar as perdas de 2020. O número de marcas franqueadoras deve oscilar 2% para cima. “Todos estão repensando os seus negócios, a forma de recrutar, como selecionar franqueados e colaboradores. Estão aproveitando a crise como um freio de arrumação para se fortalecer internamente”, avalia Cherto.
A internacionalização manteve-se estável em 2020, com 163 marcas com operação em 106 países. Moda continua em destaque, com 36 marcas, seguido por Saúde, Beleza e Bem-Estar, com 34.
Já a presença de marcas estrangeiras no Brasil caiu de 214 para 205. Terra avalia que o ambiente de negócios brasileiro se mostrou menos favorável para o empresário estrangeiro, e citou os últimos acontecimentos na Petrobras, com a troca de comando indicada pelo presidente Jair Bolsonaro, como um ponto de insegurança para investidores internacionais.
por Luisa Sanches