•  quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Eu Sei em Quem Vocês Votaram na Eleição Passada

No início da segunda metade dos anos 90, o filme Pânico se sagrou como um dos mais marcantes do cinema na época ao subverter um pouco o gênero de terror e até satirizar os tantos clichês. Com o sucesso, dezenas de similares vieram na esteira, com o “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” sendo, de longe, o de maior repercussão.

Na história (para quem não é um admirador da sétima arte no período noventista), depois de uma noite de festa e bebedeira, um grupo de adolescentes atropela e mata um cara na estrada. Com medo de irem para a prisão, eles decidem se livrar do corpo e, um ano depois, começam a receber ameaças de morte com a simpática mensagem: “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”.

Mas então, tal qual os jovens do filme, que fizeram um pacto para esconder o crime que fizeram no último verão, tem muita gente que age de forma similar quando se trata de eleição. O que não deixa de ser um grande absurdo, claro.

Primeiro, é importante destacar que o voto é secreto. Ninguém é obrigado a dizer em quem votou, apoiar ou afrontar publicamente qualquer candidato que tenha sido eleito. No entanto, no Brasil, a situação tem sido contrária.

Embora não seja algo novo, a princípio, se tornou mais evidente com algumas atitudes, principalmente de pessoas famosas, como alguns que desfilavam com a camiseta estampada “A culpa não é minha, eu votei no Aécio”, quando o governo da ex-presidenta Dilma cambaleava nas cordas como um adversário de Mike Tyson durante seu auge no pugilismo. Tempos depois, quando Aécio foi implicado em várias denúncias de corrupção e afins, muitos trataram de esconder a camiseta e até de apagarem as fotos com o dito cujo de suas redes sociais (sim Luciano Huck, estou falando de você).

O que na verdade muitas dessas pessoas ignoram é que apoiar um político ou mesmo ter declarado seu voto nele, não significa não poder criticar, cobrar medidas e até, pasmem, mudar de ideia e se tornar um opositor.

Políticos, ao contrário do que tem parecido nos últimos tempos, não são celebridades que precisam de fãs. São pessoas que disputam um cargo público eletivo, ou seja, recebem votos para realizar um trabalho. E caso ele não seja bem feito, têm direito de cobrar quem votou nele e quem não votou.

Não existe vergonha em admitir que votou em alguém que não corresponde às suas expectativas. Não existe motivo para continuar apoiando um mal servidor só porque votou nele, pelo contrário, afinal, após a eleição, o ex-candidato, agora eleito, deve trabalhar para todos, para quem votou e para quem não votou.

Por isso mesmo, não faz o menor sentido idolatrar políticos como celebridades. Não é preciso “passar pano” para absurdos cometidos por quem quer que seja. Cada um pode cobrar de forma justa e honesta, principalmente se ele age diferente do que prometeu durante a campanha – isso tem até nome, “estelionato eleitoral”.

Então, se o candidato que você escolheu foi eleito e passa o tempo todo te fazendo passar vergonha, seja negando a gravidade da pandemia enquanto inaugura exposição de roupas; ofendendo pessoas, aparecendo envolvido em corrupção e amizades com milicianos e criminosos, não precisa ficar passando esse “carão”.

O seu candidato eleito pode ser um idiota e não é porque você votou nele que você precisa ser também.

Por: Luciano Rodrigues

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