Uma advogada foi presa em flagrante pela Polícia Militar (PM), na última sexta-feira (20), por injúria racial, lesão corporal e homofobia contra funcionários e clientes de uma padaria na Zona Oeste de São Paulo. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Lidiane Brandão Biezok, de 45 anos, ofendendo uma funcionária do estabelecimento comercial e agredindo um dos clientes.
O caso ocorreu no Dia da Consciência Negra numa unidade da Dona Deôla, que lamentou o episódio em sua página no Instagram e classificou o ato como “repugnante”. A Polícia Civil investiga o caso depois que duas vítimas registraram boletim de ocorrência contra a agressora no 91º Distrito Policial (DP), Ceasa. A advogada foi solta para cumprir prisão domiciliar.
Procurada neste domingo (22) pela reportagem, a advogada Lidiane se defendeu, alegando que foi provocada por dois clientes quando estava comendo um sanduíche. Disse que reagiu, admitindo que se excedeu e usou inclusive termos homofóbicos contra eles. A mulher ainda afirmou que não tem nada contra gays. E negou que tenha utilizado termos racistas contra as pessoas da padaria.
“Eu não tive a mínima intenção em ofender ninguém. Eu me senti acuada, me senti uma vítima ali de uma situação que eu não tinha como sair. Fui agressiva e estúpida mas não tenho nada contra homossexuais. Peço desculpas”, falou a advogada.
A reportagem não encontrou as vítimas para falar do assunto.
Boletim de ocorrência
De acordo com o registro, que o G1 teve acesso, as vítimas de Lidiane são dois artistas de 24 anos. Os jovens relataram que foram jantar na Dona Deôla e que começaram a filmar a mulher depois que, segundo eles, ela passou a ofender uma garçonete e um funcionário “em razão de um problema com a comida”.
Os rapazes disseram que ainda chamaram a atenção dela, dizendo que ela “não tinha o direito de ofender” os funcionários. Em seguida, relatam, Lidiane passou a ofendê-los, os chamando de “veados”, que “odeia veados” e que os “gays seriam o mal do mundo e que seriam todos aidéticos e que só serviam para passar doenças”.
Ainda de acordo com o boletim de ocorrência, a advogada ofendeu um dos rapazes por causa da cor da sua pele. Segundo o registro, a vítima é parda e a mulher é branca. O amigo dele também aparece como branco no documento.
Dois funcionários da padaria foram ouvidos como testemunhas na delegacia e confirmaram que “presenciaram as ofensas raciais e homofóbicas, o discurso discriminatório em razão da sexualidade das vítimas e as agressões praticadas” por Lidiane contra um dos clientes.
Vídeo
“Ela já agrediu, ela já desmoralizou. Ela já foi racista, já foi transfóbica, já foi homofóbica, e ela ainda consegue entrar dentro do estabelecimento”, critica um rapaz no vídeo, que foi postado na página do Portal Arrasa, que trata sobre diversidade. A imagem foi compartilhada depois em diversos grupos de WhatsApp.
Na filmagem, a mulher humilha uma funcionária dizendo que “você ainda trabalha na Dona Deôla. Você não é a rainha da Inglaterra”.
Em seguida, um rapaz rebate e fala: “Ela não está aqui para te servir, amore. Ela não vai te servir”.
Em outro momento do vídeo, Lidiane xinga alguns clientes com palavras homofóbicas:
“Você sabe que dar o c* dá um problema seríssimo…”, diz a advogada, que fala mais palavrões para um cliente. “Tenta me bater, tenta… B* no c*.”
Em seguida, a mulher passa a bater num dos clientes com tapas e socos:
“Eu não tô falando mais de p* nenhuma. Então aqui é uma padaria gay?. Eu não tô falando p* nenhuma. Seu f* da p* (depois mulher agride rapaz). Você quer me atacar seu f* da p* (e dá tapas).”
O que diz a padaria
Numa nota divulgada na sua rede social, a Dona Deôla se posicionou confirmando que funcionários e clientes foram vítimas da mulher, que fez ofensas racistas, homofóbicas e transfóbicas:
“Lamentavelmente, na noite de ontem [sexta-feira, 20 de novembro], funcionários e clientes da nossa padaria na Pompeia foram alvo de ofensas racistas, homofóbicas e transfóbicas, que podem inclusive configurar crime. Por isso, seguindo a orientação que lhes foi dada, a nossa equipe acionou a polícia para que as providências fossem tomadas. A Dona Deôla se solidariza com as vítimas desse ato repugnante e se coloca à disposição para prestar toda a assistência necessária. Reiteramos o nosso repúdio a qualquer tipo de discriminação e o nosso compromisso com a proteção e o bem estar de nossos funcionários e clientes”, informa a nota que expira em 24 horas depois de publicada.