•  domingo, 24 de novembro de 2024

Trump ou Biden? Com participação histórica e eleitorado polarizado, EUA vão às urnas para definir quem será presidente a partir de 2021

Joe Biden e Donald Trump disputam nesta terça (3) uma eleição presidencial que deve bater recorde histórico de participação, com mais de 150 milhões de votos.

O número se torna ainda mais impressionante ao lembrar que o voto não é obrigatório nos Estados Unidos. Em 2016, cerca de 60% dos 240 milhões dos cidadãos aptos votaram, mas este ano a porcentagem deve ficar acima dos 65%, segundo projeções.

Quando será anunciado o vencedor, porém, ainda é incerto. Diferentemente de 2016, quando Trump foi confirmado vitorioso já na madrugada seguinte ao dia da votação, é esperado que a apuração dos votos neste ano demore mais.

Isso porque alguns estados só começam a contar os votos que chegam por correspondência após o fechamento das urnas. Como é preciso validar a autenticidade da cédula e, em 2020, houve aumento nessa modalidade de votação, a demora é prevista pela maioria dos analistas eleitorais americanos.

Para vencer a eleição e se tornar presidente, não basta conquistar a maior quantidade de votos populares. Os Estados Unidos adotam o sistema de Colégio Eleitoral, que tem 538 integrantes. Um candidato à presidência precisa garantir 270 deles para chegar ao cargo.

Quando os eleitores norte-americanos votam, eles na verdade estão decidindo para quem vão entregar os delegados de seus estados. E estados com mais habitantes têm mais delegados no Colégio Eleitoral. O sistema do Colégio Eleitoral existe justamente para que estados mais populosos tenham peso maior na decisão.

Para ajudar, quase todos os estados – com exceção apenas de Maine e Nebraska – adotam um sistema chamado “winner takes all” (ganhador leva tudo), no qual o candidato que conseguir o maior número de delegados fica com todos.

Congresso

 

Além do presidente, os americanos também votam nesta eleição em deputados e senadores que irão compor um novo Congresso a partir de janeiro de 2021. Estão em disputa todos os 435 assentos da Câmara e 35 dos 100 no Senado.

O resultado pode alterar as maiorias nas duas casas e influir diretamente no apoio ao presidente eleito, seja ele quem for.

Atualmente, os democratas têm a maioria na Câmara, com 232 deputados, contra 197 republicanos. Há ainda um deputado libertário e cinco assentos vagos, quatro por renúncias e um após a morte do congressista John Lewis, em julho deste ano.

Já no Senado a maioria é republicana. Dos 100 assentos, eles ocupam 53, enquanto os democratas são 45. Existem ainda dois senadores independentes.

Candidatos à presidência

 

Independente de se o republicano Trump, de 74 anos, se reeleger para um segundo mandato, ou se o democrata Biden, de 77, se tornar o 46º presidente, uma coisa é certa: os Estados Unidos terão seu mais velho presidente da história a partir de 20 de janeiro de 2021.

Biden, vice-presidente durante a administração de Barack Obama, aparece com vantagem em praticamente todas as pesquisas, incluindo em alguns estados que são tradicionalmente redutos republicanos, mas não se pode garantir que vá conquistar os 270 votos necessários no Colégio Eleitoral – em 2016, por exemplo, Hillary Clinton teve mais votos populares, mas não foi eleita.

Um dos mais tradicionais políticos dos EUA, ele tinha apenas 29 anos quando foi eleito senador pelo estado de Delaware pela primeira vez, em 1972. Pouco depois, perdeu a primeira mulher e uma filha de 18 meses em um acidente de carro, e foi empossado no quarto de hospital onde um de seus filhos estava internado.

Biden foi senador até 2017, inclusive durante seu período como vice – nos EUA, o vice-presidente é também o presidente do Senado.

Nascido em 1942 na Pensilvânia, em uma família católica (os EUA são de maioria protestante), ele se casou de novo em 1977, com Jill Tracy Jacobs, e teve outras crianças. Biden precisou enfrentar uma segunda tragédia pessoal. Beau Biden, seu filho mais velho, foi diagnosticado com um tumor cerebral em 2013 e morreu dois anos depois.

Beau foi amigo próximo da senadora Kamala Harris, a candidata a vice na chapa de Joe Biden.

Já Donald Trump se lançou como candidato à presidência em 2015 sem nenhuma experiência anterior em cargos políticos. Ele era conhecido como magnata e apresentador de TV na época, e o anúncio chegou a ser visto como uma excentricidade sua, em busca de voltar aos holofotes após deixar de apresentar o reality show “The Apprentice”.

Filiado ao Partido Republicano em 1987, Trump iniciou a vida política alinhado com os presidentes Ronald Reagan e George H. Bush. Quando o democrata Bill Clinton venceu, em 1992, permaneceu na oposição. Porém, em 2001, primeiro ano do republicano George W. Bush na Casa Branca, passou a se declarar democrata. Finalmente, em 2009, ano inaugural de Barack Obama, Trump mudou de lado mais uma vez.

Trump nunca escondeu que tentaria a reeleição em 2020. Antes mesmo de tomar posse, em janeiro de 2017, o republicano revelou ao jornal “The Washington Post” que já tinha um slogan pronto para a nova corrida presidencial: “Keep America Great” — “Mantenha a América Grande”.

Votos antecipados

 

Em 2020, uma quantidade sem precedentes de americanos optou por adiantar a votação, seja presencialmente ou por correios.

Por causa da pandemia de coronavírus, o sistema de votar à distância – antes disponível apenas por alguns estados – foi adotado em todo o país.

Foram quase 100 milhões de votos antecipados, dos quais 63,9 milhões foram enviados pelo correio. Em quatro estados, a votação já supera todo o comparecimento de 2016.

O Texas superou essa marca na sexta-feira (30). O Havaí foi o primeiro a passar dos 100%, e ontem o mesmo ocorreu em Washington e Montana. Na Carolina do Norte e na Flórida, dois dos principais estados decisivos, o comparecimento já é de 95,4% e 93,7%.

Inicialmente, houve uma arrancada de votos democratas em todo o país, em proporções que chegavam a dois por um em diversos estados. Mais perto da data da eleição, mas a diferença começou a cair.

Na segunda, nos 19 estados que coletam a filiação partidária dos eleitores, 45,4% eram democratas e 30%, republicanos. Na terça (27), os democratas eram 49% e os republicanos, 28%.

Divisões

 

Em um país mais polarizado do que nunca, republicanos e democratas tiveram uma campanha eleitoral totalmente diferente este ano, com muito menos comícios e eventos públicos, apenas dois debates entre os candidatos à presidência e um tema dominante: um vírus que contaminou mais de 9 milhões de cidadãos, matou mais de 230 mil e deixou a economia norte-americana – grande aposta de Trump em sua campanha pela reeleição – em desordem.

Se o medo de aglomerações foi um dos fatores que levou muita gente a votar antes desta terça, também o temor de distúrbios fez com que alguns preferissem ficar em casa no dia da eleição.

Um documento divulgado no início de outubro pelo Departamento de Segurança Nacional (Homeland Security) dos EUA aponta riscos relacionados às eleições, de acordo com a BBC.

Além de ameaças estrangeiras e crimes digitais, o departamento diz que “extremistas violentos domésticos (EVD) e outros atores podem ter como alvo eventos relacionados às campanhas presidenciais de 2020, a própria eleição, os resultados das eleições ou o período pós-eleitoral”.

“Alguns EVDs aumentaram sua atenção a atividades eleitorais ou de campanha, declarações públicas dos candidatos e questões políticas ligadas a candidatos específicos”, diz o texto.

Apenas em outubro, dois homens presos foram acusados de terem planos para matar o candidato democrata à presidência, Joe Biden, um deles em Maryland e outro na Carolina da Norte. Além disso, no início do mês, o FBI anunciou a prisão de 13 pessoas envolvidas em milícias armadas que planejavam sequestrar a governadora do estado de Michigan, a democrata Gretchen Whitmer.

Também contribuiu para o clima tenso o discurso do próprio presidente Donald Trump, que por diversas vezes afirmou, sempre sem apresentar qualquer evidência, que poderia haver fraude no sistema de votação pelo correio.

Principalmente em seu perfil no Twitter, ele questionou a integridade do processo eleitoral, causou tumulto ao orientar seus eleitores na Carolina do Norte a votarem duas vezes – um crime – e chegou a afirmar, ainda em setembro, que acreditava que a decisão sobre o vencedor poderia acabar na Suprema Corte.

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