•  segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Afipe repassou R$ 92 milhões a uma empresa de comunicação durante um ano, diz MP

Investigação do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) aponta que a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) repassou, no período de um ano, R$ 92 milhões a uma empresa de comunicação. Segundo o órgão, os pagamentos levantaram a suspeita de lavagem de dinheiro “em virtude da elevada quantia e da forma empregada para as transferências”. Uma rede de postos de combustíveis e pessoas ligadas à Afipe também teria participado das negociações.

A associação é alvo da Operação Vendilhões, deflagrada pelo MP-GO, que apura desvios de doações feitas por fiéis. O fundador da Afipe, padre Robson, também é investigado e se afastou das funções temporariamente. Ele nega ter cometido irregularidades.

As empresas e pessoas investigadas pelo MP-GO negam as acusações (veja posicionamentos ao final do texto).

De acordo com a apuração, entre 2017 e 2018, a Sul Brasil Rádio e Televisão LTDA recebeu quase R$ 100 milhões da Afipe. Não consta na ação para que fim seria esse valor em específico. A empresa alegou que “o dinheiro repassado tem relação com a venda de uma rede de televisão para a associação”.

Entre junho e novembro de 2018, narra o MP-GO, a empresa recebeu mais R$ 18 milhões do montante e transferiu, no mesmo período, R$ 17,5 milhões, para o Auto Posto Kurujão, o que chamou a atenção dos promotores.

Além disso, a investigação apontou outro depósito de R$ 1,2 milhão da empresa para Onivaldo Oliveira Costa Júnior, que foi devolvido por ele à companhia dois meses depois. Após essas duas transações, o homem teria recebido outros R$ 180 mil da Sul Brasil, o que, segundo o MP-GO, reforça “a conexão entre os núcleos de investigados”.

Onivaldo, juntamente com Bráulio Cabriny de Almeida Costa e Gleysson Cabriny de Almeida Costa – vice-prefeito de Trindade – são apontados na ação como pessoas que fizeram “operações imobiliárias” causando “reiterados prejuízos à Afipe”.

Onivaldo e Gleysson constam na ação como sócios de empresas diversas que fizeram negócios com a Afipe. Tais companhias, afirma o MP-GO, “receberam vultuosas quantias em dinheiro” da entidade.

Uma das empresas de propriedade de Bráulio fez “movimentações financeiras atípicas” com a Afipe, além oito transações imobiliárias.

Outros envolvidos

 

Outros nomes citados nos autos são de Celestina Celis Bueno, conselheira fiscal da Afipe, e Anderson Reiner Fernandes, advogado da associação. Os dois foram sócios numa rádio junto com Gleysson e Onivaldo. No documento não cita qual é esta empresa de comunicação.

A apuração constatou que Celestina se tornou sócia de mais duas rádios e que fez movimentações milionárias, mas quando vendeu suas cotas, sobrou apenas R$ 1,8 mil em sua conta, o que aparenta “ser um indicativo de que ela cedeu/usou seu nome e sua conta bancária para passagem e lavagem de dinheiro”.

Já Anderson, também sócio de uma rádio, teria feito cinco transações imobiliárias com a Afipe de mais de R$ 2 milhões. A casa de praia na Bahia, vendida à entidade, foi feita pela empresa do advogado, conforme o MP-GO.

O que dizem os citados

 

A defesa do padre Robson, que também representa a Afipe, disse que teve acesso agora ao processo e que vai se posicionar quando estiver por dentro de toda a investigação. Destacou ainda que o pároco é o maior interessado no esclarecimento de todas as suspeitas e já se colocou à disposição dos promotores.

A defesa de Gleysson, Bráulio e Onivaldo disse que as operações feitas com a Afipe são legais e que os três não foram sequer intimados, mas que eles estão à disposição para qualquer esclarecimento.

A Sul Brasil informou que vai provar no processo que a negociação com a Afipe foi legal e que o dinheiro repassado à empresa tem relação com a venda de uma rede de televisão para a associação.

O representante do Posto Kurujão, Douglas Reis, disse que é inocente e irá provar.

G1 e a TV Anhanguera não conseguiram contato com Celestina e Anderson.

Entenda o caso

  • No dia 21 de agosto, o MP deflagrou a Operação Vendilhões, que apura desvios de verba e lavagem de dinheiro na Afipe
  • A ação apura o uso de dinheiro da Afipe – em sua grande maioria doado por fiéis – na compra de fazendas, casas de praia e outros imóveis de luxo. O MP afirma que eram usados “laranjas” e empresas de fachada para a prática dos crimes
  • Um processo de extorsão sofrido pelo padre Robson originou a ação do MP. A Justiça afirma que um hacker extorquiu o pároco tinha um romance com ele e ameaçava expor casos
  • A investigação aponta que a Afipe movimentou cerca de R$ 2 bilhões na última década. Ao menos R$ 120 milhões teriam sido desviados
  • Fundador e presidente da Afipe, padre Robson se afastou do cargo por conta da operação. Ele era o responsável por gerir um orçamento de R$ 20 milhões mensais

 

(G1)

 

Ler Anterior

Brasil perdeu 21,7% dos trabalhadores sindicalizados após a reforma trabalhista, diz IBGE

Ler Próxima

Grupo de hackers vaza em rede social supostos dados de Michelle Bolsonaro