Produtores de Cândido Rodrigues adotam boas práticas de cultivo
Cândido Rodrigues, cidade localizada na região de Jaboticabal e atendida pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional, tem pouco mais de três mil habitantes e está a 350 quilômetros da capital.
O município conquistou a emancipação em 1959, quando deixou de ser Distrito de Taquaritinga, sendo seu nome estabelecido na época, como homenagem ao secretário Estadual de Agricultura, Antônio Cândido Rodrigues, que, posteriormente, se tornou ministro da Agricultura. Esse fato histórico demonstra a estreita ligação com a produção agrícola, do povoado que evoluiu para município às margens da estrada de ferro Araraquarense.
“A cidade foi construída tendo suas bases estabelecidas na agropecuária, até hoje o cerne da economia local, com a fruticultura como principal atividade, Há alguns anos, as áreas destinadas ao limão [maior cultura] foram diversificadas com o cultivo de carambola, graviola, abacate, atemoia, manga e goiaba tailandesa [variedade diferenciada, de grande porte, popularmente conhecida como gigante; com polpa macia e doce; odor suave; e excelentes perspectivas de mercado]”, explica Francisco Antonio Maruca, engenheiro agrônomo responsável pela Casa da Agricultura.
Competitividade
Há alguns anos, Chiquinho, como Francisco Antonio Maruca é conhecido, se deparou com um cenário no qual a citricultura enfrentava problemas de sanidade (com a disseminação do greening) e os produtores, pequenos em sua maioria, estavam receosos quanto ao futuro da atividade. Assim, a equipe da Casa da Agricultura delineou, em parceria com outras entidades, um projeto para ampliar a rentabilidade e competitividade.
“A maior exigência do mercado hoje é a qualidade, pela qual muitos consumidores se dispõem a pagar preços mais elevados. Vimos na diversificação de culturas na adoção das Boas Práticas Agropecuárias [BPAs] a saída para diminuir os problemas enfrentados pelos produtores”, conta o agrônomo.
Um projeto de difusão e adoção de BPAs foi estabelecido em parceria com a Associação dos Produtores Rurais (Aprocar) e a Cooperativa de Fruticultores de Cândido Rodrigues (Coofrucar), e o primeiro passo para que a proposta desse certo foi investir no fortalecimento dessas entidades.
O principal objetivo do projeto está em pleno desenvolvimento, que é o fortalecimento dos pequenos agricultores nos aspectos tecnológicos, gerenciais e comerciais. “A consequência é que estamos conseguindo ter uma produção com mais qualidade e respeito ao meio ambiente, alimentos mais seguros para os consumidores, bem como mais saúde, segurança e bem-estar para os produtores e os trabalhadores rurais”, avalia Chiquinho.
Ele destaca que, além de técnicas voltadas à produção e comercialização, os produtores são capacitados em temas como primeiros socorros e aplicação correta e segura de defensivos agrícolas.
Pandemia
O agrônomo ressalta ainda que os produtores que fizeram a adequação das propriedades, de acordo com as normas de BPA, estão mais tranquilos neste período de pandemia de COVID-19, em que protocolos sanitários estão tendo que ser implementados em todos locais para evitar a infecção pelo novo coronavírus.
“Estamos em plena época de colheita de algumas frutas, período que requer muita mão de obra. Com a necessidade de distanciamento social, entre as orientações impostas pela pandemia, muitos sítios já tinham instalações adequadas, sendo necessários apenas pequenos ajustes. Os proprietários que ainda não tinham aderido ao projeto, já têm um protocolo estabelecido e estão investindo para garantir segurança e manutenção da atividade”, informou o agrônomo, ressaltando que os produtores interessados podem entrar em contato com a Casa da Agricultura, que está em trabalho remoto.
Para Fabiana Gouvêa, diretora da CDRS Regional Jaboticabal, as BPAs são fundamentais para que o agricultor atenda às exigências dos mercados nacional e internacional, mas seus benefícios vão além.
“Com sua adoção há ganho em eficiência e produtividade, além de garantir melhor qualidade do terreno agrícola. São obtidos produtos de maior qualidade, mais saudáveis, melhoria nas condições de trabalho e saúde dos produtores, de suas famílias e seus funcionários e adaptação dos sistemas de produção para uma agricultura sustentável, segura e ecologicamente correta”, pontuou.
Práticas
Na propriedade de Ricardo e Adriana Cristina Núncio, a primeira impressão é de um ambiente organizado e profissional. Após uma visita aos pomares, descobre-se que a adoção das BPA foi além do uso correto de defensivos agrícolas.
“Ao integrarmos o projeto de BPA, entendemos que a sustentabilidade significa mais do que aumento de produtividade, está presente nas relações sociais, na responsabilidade ambiental e na segurança alimentar”, avalia o casal de produtores.
Com tal pensamento, a família colocou em prática adequações na estrutura do Sítio Mendes, onde cultivam limão, graviola, atemoia e manga. A máxima “cada coisa em seu lugar e um lugar para cada coisa” foi levada a sério. Eles construíram um galpão onde fertilizantes, adubo e defensivos têm seus lugares distintos.
A coleta seletiva de lixo e o descarte de embalagens foram aprimorados, entre outras ações. Na área produtiva, foram adotadas novas técnicas de manejo, poda e identificação dos talhões, o que permitiu a implantação de um sistema de rastreabilidade.
Com o objetivo de minimizar os riscos de contaminação com produtos agroquímicos, ao longo do pomar foram construídas plataformas de cimento (onde os tanques pulverizadores são abastecidos) com sistema de captação de resíduos. Nas relações sociais, os produtores investiram na capacitação dos funcionários, no uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), na adequação de refeitório e local para higienização após as aplicações, bem como em sinalização da propriedade.
“As BPAs nos possibilitaram uma melhor gestão do nosso negócio, o que gerou agregação de valor e maior rentabilidade”, ressaltou o produtor, que ocupa a presidência do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural.
“Pragas como o greening ainda nos deixam em alerta, mas com a adoção de BPA, estamos mais esperançosos quanto ao futuro das lavouras de limão, que nesta pandemia, na contramão de outras frutas que tiveram tanto o comércio interno como o externo impactados, teve aumento na procura”, completa, ao reconhecer que a dedicação dos extensionistas da pasta tem sido fundamental para que os produtores se mantivessem na fruticultura.
O aumento na procura pelo limão pode ser explicado pelo alto teor de vitamina C que contém. “As frutas cítricas são comprovadamente ricas em vitamina C, que auxilia o aumento de imunidade e fortalece a saúde humana. Por isso, neste momento, se tornaram ainda mais relevantes na alimentação”, avalia Chiquinho.
Em um boletim de julho, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) informou que a exportação de frutas cítricas aumentou no primeiro semestre deste ano e itens como tangerina, laranja e limão subiram 158%, 132% e 12%, respectivamente.
Otimização do espaço
O Sítio Santo Antônio, dos produtores José Donizete e Sueli De Grande, pode ser incluído em uma campanha de otimização do espaço. A área de cerca de cinco hectares, onde são cultivadas carambola, graviola e goiaba tailandesa, foi delineada com bases na adoção das BPAs.
“Aderimos à proposta do projeto de implantação de BPA para obtermos produtos com mais qualidade e valor agregado, para aumentar a rentabilidade, bem como para oferecer um alimento mais seguro para as pessoas. À medida que fomos aprendendo as metodologias, passamos a valorizar cada espaço do Sítio, atentando, inclusive, para os espaçamentos que permitem otimizar a área dos pomares. Ganhamos em produtividade, controle de pragas e doenças, redução de uso de agroquímicos, gestão, qualidade e renda”, contam os produtores.
Na área produtiva, entre as novas tecnologias adotadas, a de poda fez muita diferença. “Antes, achávamos que as plantas deveriam crescer à vontade. Hoje, aprendemos que as podas, feitas de forma adequada, fazem com que os frutos cresçam mais uniformes e maiores, bem como ajudam na colheita, a qual é feita manualmente”, explica o produtor.
Nesse contexto, a preocupação com o meio ambiente se reflete no cuidado com a conservação do solo, deixando matéria orgânica entre as linhas de cultivo e na adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e do uso de roçadeiras para limpar o mato excedente no lugar de herbicidas, bem como na observação da natureza.
“Quando crianças, aprendemos que as frutas se desenvolviam bem em locais limpos, arados e gradeados, após as capacitações entendemos que o solo precisa de vida, a qual só é conseguida com o seu pouco revolvimento. A natureza está agradecida, restauramos uma área de mata e os animais que não se via mais, estão voltando. Hoje, podemos dizer que nosso Sítio tem vida, e vida de qualidade”, comentam José Donizete e Sueli, demonstrando que o aprendizado adquirido contribui para a sustentabilidade.