Especialista da Baker Tilly elenca 5 medidas emergenciais para micro e pequenas empresas
Ainda não é possível afirmar todas as consequências dos impactos econômicos causados pela crise do novo coronavírus no Brasil, mas uma coisa é certa, “além da situação lamentável pelo grande número de óbitos e imensa comoção, o país sofre com um choque na receita das empresas e nível de desemprego”, comenta Otaniel Martins, sócio da Baker Tilly no Brasil.
Pela 14ª semana seguida, piorou a expectativa do mercado financeiro para o recuo do PIB, o Produto Interno Bruto, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Dessa vez, a previsão de queda passou de 4,11% para 5,12%. A estimativa consta do boletim Focus, publicação divulgada semanalmente pelo Banco Central, com a projeção para os principais indicadores econômicos. A previsão para o crescimento do PIB em 2021 segue em 3,20%; e para 2022 e 2023 continua em 2,50%.
Representando o grupo empresarial mais frágil diante da crise de Covid-19, de acordo com dados do Sebrae, as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) têm 27% de participação na formação do Produto Interno Bruto nacional e respondem por 52% dos empregos com carteira assinada. Considerando os números e riscos as MPEs são empresas menos preparadas para situações críticas devido à estruturação e quadro enxuto, grande parte voltada para sustento familiar do empreendedor. Segundo especialistas, algumas podem ser obrigadas a demitir funcionários e fechar as portas, pois com o isolamento social, hábitos e prioridades de consumo foram modificados e, consequentemente, o dinheiro passou a circular com velocidade muito menor na economia.
“O Brasil ainda está vivenciando a entrada na tempestade, enquanto alguns países estão saindo, como China e Coréia do Sul. É evidente que ao sair da tempestade, o efeito da crise causará dor durante algum tempo, em vários sentidos. Para tentar minimizar os impactos, as micro e pequenas empresas podem tomar algumas medidas”, comenta Otaniel.
Confira 5 medidas emergenciais para as MPEs elencadas pelo especialista:
Transformar-se rapidamente
Com a pandemia, novos modelos de negócios e canais de comercialização e “empresários que ainda não possuem ferramentas e canais digitais devem refletir sobre isso, pois esses novos canais tornaram-se importantes fontes para o fortalecimento de receitas”. Hoje, conforme diversas pesquisas revelam, há um crescimento nessas demandas e é importante enxergar essa oportunidade dentro do negócio, adaptando para manter o funcionamento e a fidelidade dos clientes.
Ter uma mentalidade além da crise
Segundo o especialista, para quem lidera uma micro ou pequena empresa, a prioridade máxima deve ser manter a família e os funcionários em segurança. Nesses períodos de dificuldades, é preciso rever os processos da empresa, conversar com a equipe e ouvir o que eles têm a dizer, além de observar pontos de melhoria, analisar formas de redução de custo com fornecedores, pode ajudar a segurar o negócio durante esse período de dificuldades. Aprimorar a qualidade do serviço, buscar treinamentos e melhorias não percebidas antes, além de evitar desperdícios de tempo e de mão de obra, além de ser assertivo e produtivo são outras dicas elencadas por ele.
Fortalecer a relação com sua equipe e fornecedores
Para Otaniel, em momentos difíceis, ter parcerias para compras, realizar promoções, negociar prazos de pagamento de entrega faz toda a diferença. Segundo ele, abrir o jogo com os fornecedores pode ser benéfico tanto para as pequenas e micro empresas, quanto para o fornecedor, afinal ele também depende da empresa. Criando uma relação de confiança, ambas as partes terão o planejamento e o funcionamento do negócio facilitados.
“Encontrar a forma de aproximação com seus fornecedores, reconstruindo a relação em um formato mais próximo ao da sua empresa, trará benefícios para ambos os lados. Eles podem se tornar parceiros e fazerem parte do negócio, e isso também deve ser levado em consideração fora dos períodos de crise”, afirma o especialista.
Destravar o fluxo de caixa
A maioria das MPEs não possuem governança elevada e seus fluxos de caixa são apertados, sem reservas financeiras – algumas sobras são imobilizadas sem alinhamento estratégico com a operação, ficando sem liquidez. Nesse momento de fluxo de caixa travado, todo cuidado é pouco diante da preservação do negócio, um formato de “war room” deve ser adotado e as saídas de caixa devem ser analisadas caso a caso.
“Algumas medidas lançadas pelo governo devem ser rapidamente analisadas e adotadas. A medida provisória (MP) 936, por exemplo, ameniza os custos com a folha de pagamento de colaboradores dentro do regime CLT. O BNDES lançou financiamentos para folha de pagamento de MPEs através de alguns bancos, como o Itaú, com juros a partir de 3,25% ao ano, com prazo de pagamento em até 30 meses. Aproveite os benefícios das micro e pequenas empresas”, analisa.
Reduzir custos desnecessários
Nesse momento de crise, priorize os principais custos da empresa. “Elimine os gastos extras o mais rápido possível. Essa medida pode não salvar a empresa a curto prazo, mas certamente, trará mais clareza a longo prazo. Após a crise, ela estará mais forte. Enxugando os gastos, podemos reduzir os prejuízos. Coloque essa dica em prática agora mesmo!”, frisa Otaniel Martins.
Empreendendo na crise
Segundo Albert Einsten, “é na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias”, mas será que é possível empreender em época de pandemia? A resposta é sim! “É plenamente possível criar um negócio de sucesso na pandemia. Mas, as principais dicas para quem quer empreender são foco, dedicação e planejamento. Esses são os itens primordiais para quem deseja abrir um novo negócio, independentemente de ser em um período de crise ou não”, explica.
Pesquisas da Bain&Company e McKinsey&Company afirmam que os mercados de ensino a distância, entretenimento online e ferramentas para trabalho remoto são exemplos de mercados que estão em alta, e continuarão após esta situação complicada. Outros exemplos são os negócios relacionados com o “novo normal”, comportamento de consumo esperado no pós-pandemia como saúde e qualidade de vida, o novo papel da casa, sustentabilidade redefinida, propósito, desvalorização da metrópole, digital onipresente, consumo repensado, aumento da (in)fidelidade, consumo seguro.
“O novo papel da nossa casa, por exemplo, está relacionado com o centro da vida por um bom tempo, ou seja, será o local para estarmos com a família, o ambiente de descanso, de entretenimento, socialização, cuidados pessoais, exercício físico e trabalho. O consumo fora de casa, deve cair mesmo depois do relaxamento da quarentena. Fique atento às oportunidades e ao comportamento do mercado”, finaliza o especialista.