Como a ISO pode ajudar o Brasil na crise pós-coronavírus?
Por Alexandre Pierro
Estamos diante de uma guerra cujo inimigo é invisível. O coronavírus fez com que todos os planos, pessoais e de negócios, tivessem de ser revistos. Viagens, investimentos, compras diversas: tudo começa a ser repensado para daqui a dois ou três meses, no mínimo.
Enquanto os mais pessimistas já classificam o ano como perdido, resolvi me manter positivo e procurar informações seguras sobre como o mundo já se recuperou de outras crises. Foi então que me recordei que a ISO (International Organization for Standardization) foi criada por delegados de 25 países, em 1947, dois anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Com o objetivo de reconstruir o mudo devastado pela guerra, a ISO criou normas para padronizar a produção dos países, facilitando o comércio internacional. Uma curiosidade interessante é que o próprio nome ISO deriva da palavra grega “isos”, que significa “igual”. Inclusive, o lema da ISO é “Whatever the country. Whatever the language. We are always ISO” (Todos os países. Todas as línguas. Somos todos ISO), o que demostra como a instituição prega a igualdade e o padrão para todos.
Nas primeiras décadas de existência, a ISO se concentrou no desenvolvimento de padrões para produtos e tecnologias. Entre as normas mais conhecidas estão a ISO 9001, com foco em gestão de qualidade, e a ISO 14001, com padrões para gestão ambiental. Hoje, essa organização fundamental para o funcionamento da economia mundial já conta com 164 países-membro e mais de 3 mil órgãos técnicos.
Apesar de não estarmos em um cenário pós-guerra como o de 1947, a solução para reerguer as empresas diante da pandemia do novo coronavírus também pode partir de uma norma internacional, como por exemplo, a ISO 22301, de continuidade de negócios (ou gestão de crises, como alguns preferem), ou a mais recente norma ISO 56.002, de gestão da inovação.
Curiosamente, a ISO de inovação começou a ser estudada durante a crise econômica de 2008, após a falência do tradicional banco de investimento norte-americano Lehman Brothers. Depois de 11 anos de estudos, a norma foi lançada em julho de 2019. Ela surge como uma nova metodologia para ajudar as empresas a se preparem para um futuro que se apresenta cada vez mais incerto.
Contudo, o fato demonstra que as crises sempre acabam gerando novas oportunidades e, muitas vezes, impulsionando a inovação. A PALAS, empresa que ajudei a fundar, sempre acreditou nisso. Tanto que implementamos a ISO 56002 com pioneirismo. Conquistamos a primeira certificação da América Latina – para uma indústria de transformação do ramo de nylon – na mesma semana em que a norma foi oficialmente publicada, em Genebra, Suíça, cidade sede da ISO.
Mesmo em tão pouco tempo, essa empresa já coleciona vários resultados, sendo o mais relevante deles o fato de que 9% de seu faturamento total, em 2019, ser advindo dos 133 novos produtos que foram lançados a partir do processo de implementação e certificação da ISO 56.002. Entre outros benefícios, eles notaram a redução do turn over, a queda dos juros bancários e a maior abertura do mercado internacional, visto que a ISO é a língua mundial dos negócios.
Sabemos que o momento é de muita cautela e cuidado, porém se vermos ao longo da história, muitas oportunidades e inovações ocorreram logo após épocas de grande crises humanitárias, como a peste bubônica, em meados do sec XIV, que culminou na criação da medicina moderna, ou a pandemia de cólera na Inglaterra, em meados do século XIX, que impulsionou a Revolução Industrial. Isso mostra que passados tempos difíceis, muitas oportunidades aparecem. É hora de ver o copo “meio cheio” e estar preparado para as oportunidades que irão aparecer. As normas ISO certamente podem ajudar muito nessa nova jornada.