•  sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Fundos de ações: é preciso comparar o que é comparável

Com a taxa básica de juros em seu menor patamar histórico, estamos assistindo a um fluxo maior de investidores aplicando em ações. A Bolsa e os fundos de ações, que durante alguns anos tiveram desempenhos abaixo do CDI, embutindo um valuation – valor de mercado das empresas, extremamente descontado em função do risco Brasil, passam a ter melhores desempenhos neste novo cenário no qual o governo busca endereçar o ajuste fiscal, sobretudo a reforma da previdência. Por sua vez, o Banco Central segue com uma economia monetária mais frouxa, o que também favorece a retomada da economia.

Ao analisarmos as margens das empresas que compõem o IBrX, o Índice Brasil, vemos que elas se encontram abaixo da média histórica, o que nos faz crer que, caso haja realmente uma recuperação da atividade econômica, as empresas poderão aumentá-las.

Portanto, é natural esta migração dos investidores para produtos multimercados e de ações, assim como, o aumento da alocação dos gestores de recursos no mercado acionário.

Por conta deste movimento, a Bolsa acumulou alta de 19,18% de janeiro a setembro deste ano, mesmo depois de muito sobe e desce em função das dificuldades para o andamento da Reforma da Previdência e do embate comercial entre Estados Unidos e China, entre outros acontecimentos. Em 2018, o Ibovespa já tinha avançado 15,03%.

Com base neste cenário e na performance da Bolsa, temos visto cada vez mais notícias e análises sobre as empresas listadas. Como os fundos de ações são um veículo de investimento mais simples do que investir diretamente no mercado, junto com as notícias, são divulgadas uma série de comparações e rankings que procuram mostrar a performance dos gestores versus alguns indexadores, seja o Ibovespa, o CDI ou qualquer outro. Mas será que essas comparações estão mostrando as verdadeiras características dos fundos disponíveis?

 

Análises frágeis, decisões equivocadas… 

No mundo dos investimentos, análises simplistas podem limitar bastante a visão dos fatos.  Então, ao analisar a performance de um fundo de ações, é fundamental saber primeiramente qual é a categoria a qual ele pertence – é um equívoco ir comparando qualquer produto com o Ibovespa.

Outro fator importante é analisar o próprio índice de comparação. O Ibovespa, por exemplo, é baseado na capitalização e na liquidez das ações, ou seja, não contempla nenhuma análise de risco da empresa, de seu nível de alavancagem ou de seu setor, portanto, não é necessariamente uma comparação apropriada.

Existem muitas discussões, principalmente fora do Brasil, sobre a eficiência dos gestores que buscam superar determinados índices, os chamados fundos ativos. A discussão baseia-se principalmente na eficiência destes gestores em superar o benchmark e porque um investidor deve pagar uma taxa de administração se o fundo não supera o índice. Muitos defendem que é mais racional investir em fundos indexados ou no próprio índice Ibovespa, seja através dos ETFS ou outros instrumentos.

Mas a questão é: faz sentido comparar todos os fundos de ações com o principal índice da Bolsa? A resposta é que as comparações precisam ser feitas com os indexadores ou benchmarks adequados. Por exemplo, os Fundos Small Caps devem ter como referência o Índice Small Cap, uma carteira de ações composta pelas empresas com menor porte e menor capitalização no mercado. Os fundos de dividendos têm que ser comparados como o IDiv, o Índice de dividendos, indicador do desempenho médio das cotações dos ativos que se destacaram em remuneração aos investidores sob a forma de dividendos e juros sobre o capital próprio. Já os fundos de ações composto por empresas com alto nível de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental precisam ser comprados com o ISE, o Índice de Sustentabilidade Empresarial.

Por sua vez, os fundos de ações setoriais, que investem em empresas de um mesmo setor ou de segmentos relacionados, devem ser comparados com os índices de seus setores específicos. Vários outros fundos, que usam estratégias diferenciadas, como é o caso dos Long-Short nem devem ser comparados com índices de Bolsa, pois tem como objetivos superar o CDI e não bater a Bolsa.

Outros fatores esquecidos nas comparações 

Sempre que um bom assessor de investimentos recomenda um fundo de ações, ele analisa e pesquisa os papéis que compõem aquele produto e as estratégias que o gestor utiliza para buscar seu retorno.

É preciso prestar muita atenção, pois o que muita gente não sabe é que os fundos de ações podem conter outros ativos como índices, moedas e até juros. Portanto, um passo importante na comparação é checar se o gestor investe somente em ações ou em outros ativos também.

Avaliar a relação entre o risco e o retorno é fundamental. Por exemplo, um fundo que somente investe em ações pode ter apresentado rentabilidade de 12% em 2018, abaixo do Ibovespa (15%), porém, as companhias escolhidas pelo gestor têm fundamentos financeiros sólidos, gestão estável e resultados consistentes ao longo do tempo – ou seja, as empresas que compõem a carteira oferecem baixo risco de deterioração financeira e de variação de resultados e margens. Já ao investir em todas as ações do Ibovespa, corre-se o risco de empresas alavancadas financeiramente, com grande variação em seus resultados, em processo de turn-around ou recuperação. Enfim, são situações bem diferentes.

Há outras condições específicas destes produtos de investimentos que precisam ser observadas. Um fundo que investe constantemente 80% em ações (sendo que os fundos de ações são obrigados por lei a investir no mínimo 66% em ações) e 20% em outros ativos deveria ser comparado com um índice misto. Um fundo de ações que pode alavancar o patrimônio corre um risco muito maior do que outro que não pode alavancar. Um fundo que pode fazer Short – ficar vendido em uma ação acreditando que seu preço irá cair, traz um nível de risco muito maior do que aquele que não pode fazer esta operação. Já um fundo que usa derivativos pode, mesmo estando comprado em ações, ter resultado zero, ao estar vendido em 100% em índice futuro.  Outro exemplo é um fundo que investe em empresas brasileiras e internacionais, da categoria FIEX, que não pode ter a mesma correlação que um índice nacional. Enfim, saber comparar é, antes de mais nada, saber o que é comparável

Vários estudos acadêmicos e estatísticos medem também os fundos por sua volatilidade. Nestes casos, a comparação determina que um fundo que rende mais com menor variação na sua cota é um produto melhor do que outros que oferecem maior volatilidade. Esta é uma análise extremamente válida para aqueles que têm maior aversão ao risco de queda e que investem por períodos mais curtos.

Tirando os fundos passivos ou indexados, que têm como objetivo reproduzir o Ibovespa ou qualquer outro índice, é essencial avaliar qual é o objetivo do fundo e o que os gestores usam de estratégia para alcançar seus retornos. Muitas vezes, é melhor o investidor não ter uma rentabilidade superior ao índice, contando com um fundo que segue à risca o chamado stock picking, escolhendo ações de empresas sólidas, com maior potencial nas suas áreas e negócios, que possuem governança e fundamentos consistentes e, portanto, com menos riscos.

O suporte de um assessor de investimentos especializado

Para escolher os fundos de ações mais adequados, é essencial conhecer muito bem o produto e verificar onde o gestor está colocando seu dinheiro. Para tal, você precisa verificar o regulamento, as regras e limites de alocação do fundo, bem como, a expertise dos gestores, além, claro, de analisar seus históricos de desempenho.

“Rentabilidade passada não é garantia de retorno no futuro”, mas saber onde está alocado seu dinheiro para ter a noção do risco que está correndo para alcançar uma dada rentabilidade é vital.

Conte com a ajuda de um profissional de investimentos e use ferramentas para fazer comparações corretas. Afinal, saber comparar não é simplesmente escolher um índice.

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